domingo, 5 de maio de 2019

Água e Fogo

Embriagado deste sentimento
Que não mente quando o sinto,
Escrevo o que levo na mente
E no coração, não minto.

Apaixonei-me. Só isso.
Pelas curvas do teu sorriso.
E a maneira do teu pensar
Até me corta o respirar.

Afoguei-me nesta onda.
Apagaste tudo, e reacendeste.
Sinto que, por mais que me esconda,
No fundo, nunca me perdeste.

Quero que me queimes! E me molhes!
Atira-me e puxa-me de novo!
E diz-me, olhando-me nos olhos,
Que aqui me queres, e eu não me movo.


sexta-feira, 22 de março de 2019

Ouve-me bem!

Recuso-me a desistir do amor!
Apenas por tu me enganaste,
Quando disseste amo-te com fervor
E num ápice o esfriaste!

Recuso-me desistir da vida!
Por achar que só teria sentido em ti.
Mostraste-me que uma saída
Pode ser um princípio em si.

Recuso-me a recusar a dor!
Se dói é porque tem de doer.
Porque alimenta em mim o motor
De a saber como sofrer.

Recuso-me a esquecer-te!
Dignificarei aquilo que fui contigo.
E posso nem sequer nunca mais ver-te
Mas agradeço o que de bom e mau fizeste comigo.


Ouve-me

Ao amor entreguei-me inteiro,
Como seria suposto me entregar.
Tu devolveste-me desfeito,
Com os pedaços por apanhar.

Junto-os e vou-os deixando cair,
Reconstruindo-me nunca como era.
Porque parte de mim levaste ao fugir
E o que parte jámais se regenera.

Que tarefa hercúlea tenho agora:
Seguir imperfeito à procura de conserto.
Afogado numa alma que, por ti, chora
Lágrimas de saudade que sozinho verto.

Devolve-me o que é meu,
E que sem o qual mal me reconheço.
Este corpo que de raiva se encheu
Precisa, demais, de um recomeço.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O meu maior defeito

O meu maior defeito?
Apaixonar-me facilmente.
E com um coração tão estreito,
Onde vai caber tanta gente?

Não tenho culpa que a criação
Tenha feito a mulher tão perfeita.
Ou tenho um problema na visão
Ou é no coração a maleita.

Desconfio dos dois, pois...
Se o olho vê, a bomba sente.
E entre as emoções e as razões
Há sempre uma que me mente.

A minha maior qualidade?
Amar perdidamente.
No meio de tanta quantidade
Haverá quem se perca igualmemte!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Vosquitxi

Hoje sonhei contigo. E com ele. Não me importunou o beijo que vocês deram mas sim o facto de não me dirigires uma palavra sequer, numa altivez de como quem ganha um jogo e, sem saber jogar, esbarra a vitória na cara do perdedor. Também não me importuna o facto de poder ter sido eu a perder o jogo. Nós que jogávamos tanto joguinhos de telemóvel e eu gostava de te ver sorrir quando ganhavas. Mas nesses jogos, mesmo quando um de nós fazia batota e o outro ficava amuado, um tempinho depois e estava tudo igual, igual ao paraíso que era. Um paraíso imperfeito, como todos, mas que por ser nosso eu queria que nunca acabasse. Só uma coisa para mim era maior que esse paraíso: a certeza de seres livre a todo o momento! Porque é essa liberdade que faz de ti uma borboleta deambulante que apaixona pela taralhoquice com que voa sem ter uma rota definida. E foi essa liberdade que vi desfazer o paraíso. Eu senti-o logo a desmoronar quando me perguntaste "Achas que devo ir?!" e eu, com todas as fibras do coração a quererem dizer para não ires, escolhi ouvir as sinapses do cérebro que diziam que não tinha o direito de te prender, disse "Sim...". Lembro-me que também me deste sinais de que sentias que tudo ia acabar, que o paraíso ia fechar por insolvência técnica, quando me questionas-te se "ia-mos aguentar?". Eu disse que tudo ia fazer para que sim, mas que era um enorme teste ao nó que demos em nós! A despedida custou, lá foste a cambalear com a certeza que voltavas mas com a incerteza de como, e viagem após viagem vinhas cada vez mais tua e menos minha. Lutei, tu sabes que sim, embora digas que não. Mas lutar contra o monstro que é uma nova vida, uma vida que tu construíste diferente da que tinhas porque só tu é que mandavas nela é impossível. Nem eu, que estou habituado a lutas difíceis, de perder e de ganhar, me consegui equiparar a esse rival que me deu dois socos, me deixou atordoado num canto e te levou por um braço a olhar para trás gabando o prémio que de mim levara. O maior prémio que tinha na vida… E como tu gostaste de me ver no chão, e ir no conforto do vencedor. Como uma leoa que espera a luta dos machos para seguir com o mais forte, desprezando o mais fraco. É a lei da sobrevivência e desta vez eu soube o que era ser o que perde. Impiedosa. Chamei por ti, quis que, mesmo que não fosses minha, te pudesse admirar nos voos que tinhas para dar, mas não quiseste… para quê ter um perdedor a assistir? ou, para quê ter alguém da outra vida nesta nova? por quê arriscar trazer atrás algo de um passado velho para um futuro novo? É realmente o que me importuna todas as noites. Porque é que não me deixaste ficar, depois de nos prometer-mos que o íamos fazer? Das poucas respostas que me deste, dizes que te magoei, mas nesta batalha ninguém saiu ileso. Errámos os dois e sofremos os dois, cada um à sua maneira. Só pedia, ao mundo, que o fim do paraíso não fosse um lugar cheio de nada. De nada mesmo! E talvez uma sala com algumas fotografias, umas cassetes guardadas mas preferencialmente com uma varanda gigante na qual me pudesse sentar e ver-te voar lá fora, só isso!
Quase um ano depois de teres ido embora de mim ainda tenho as nódoas negras, os arranhões, os hematomas a sarar. Quando parece que desapareceram, voltam trazendo a dor dos hematomas e arranhões, que por serem da alma, são os mais difíceis de curar.
Muito pouca coisa me importuna nesta minha, única, vida… Não saber de ti, por ti é a que mais me dói.
#vosquitxi

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Dói, só...

O coração rasga-me o peito
E eu grito!! De dor e de vontade.
Deixa-me completamente desfeito
Com um buraco que arde!

Arde tanto! Tanto!
Nem com as lágrimas o apago...
Sem ele já não canto,
Não vivo, não me acabo!

Sou o rasgo sem concerto,
Sem ti estou estragado.
Naufrágo neste negro
Sem cor que me resguarde.

Porque é que te roubaram?
Vi eu com os meus olhos..
E os meus braços não tentaram
Agarrar-te e aos sonhos!

Se um dia me ouvires
Quero que saibas que, nesta morte,
Me deixaste, ao partires,
Sem coragem pra ser forte!


 

domingo, 9 de dezembro de 2018

Diluição

Trocaste o pódio debaixo dos pés
Pelas luzes acima da cabeça
Trocaste aquilo que te dava a diferença
Por aquilo que hoje és.

Trocaste a medalha ao pescoço
Por mais este e aquele agarrado à cintura,
Nessa vida de pouca dura
Que me largou no fundo do poço.

Pedia e queria que fosses única
Vi eu Viseu moldar-te como as demais
E matar o meu sonho de um dia
Te levantar aquela branca túnica. 

domingo, 4 de novembro de 2018

(re)escrever-me

As viagens que ja fiz nas tuas asas
Dariam para dar a volta ao mundo,
E mergulhar nesse mar profundo
Que dentro dos teus olhos guardas...

Não exsitem palavras que definam o que és tu...
Porque como tu nunca existiu ninguém
Que fizesse do (meu) mundo refém
Com um simples e pequeno gesto.

Puseste o meu coração em solo novo.
A gritar "socorro" e a segurar o grito.
Um sentimento estranho, esquisito
Como o qual me comovo. Não me movo.

Não é facil explicar o que agora sinto,
No meio deste turbilhão de sensações,
Quero que saibas todas as razões
E que prometo que nunca te minto!

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

(des)pertar

Apagou-se pela ultima vez
A besta que renascia das cinzas...
E voava sem porquês
Com as penas mais lindas!

Apagou-se sobre a água da dúvida
Que se abateu sobre tudo o que existe,
E dissolveu o perdão
De quem não luta e desiste.

Ninguém engana a morte.
Nem esse bicho tão especial.
Por mais que tenhas sido forte
Foi este o teu final.

Recordo-te com esplendor
E esqueço todos os problemas.
Porque foste o amor
Que cantei em tantos poemas.

Maior é a vida que as cinzas,
E a força de querer vivê-la.
Outras bestas serão benvindas
Para um dia voltar a perdê-las!

Que me abrace a magia
De voltar a amar a cada dia!

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

(des)istir

Porque é que não insististe?
Porque é que desististe?
E ja tinhas planos pra ti
Sem que o nós existisse?

Dizias tu que amavas?
Pouco mudou para deixares.
E tu que dizias que não mudavas
Bastou respirares outros ares.

Agora não és tu.
Quem eras morreu no caminho
Entre o passado e o futuro
Agora sonho sozinho.

Palavras da tua boca:
"Sou diferente agora"
E a mudança não foi pouca
Perdeste o que te distinguia outrora.

És igual às demais.
Bebida... noite... a vida bohemia
E sempre que sais
Perdes um bocado de matéria.

Da alma que tinhas
Que te fazia gigante
E nessa alma que definhas
Só ficas mais desinteressante

Encontra-te nessas cinzas
Porque o que eras ainda podes viver.
E por mais que me mintas
Eu sei que nunca o deixaste de o ser!

sábado, 4 de agosto de 2018

sauda(des)

Tenho tantas saudades!
Do casaco que te aqueceu
À última noite que fui teu.
Sempre serei e tu não sabes...

Saudades do que foste:
Aquela lagarta a fazer um casulo, linda.
E enquanto beijava o teu rosto
Eras sempre bem-vinda.

Talvez te ame para sempre
Aquela ingénua e impulsiva rapariga
Com objetivos nobres à frente
Minha namorada, minha amiga.

Hoje nada somos.
Não aguentámos a alteração
E eu sempre achei e lutei
Para que fossemos a exceção!


Sentido, ainda não encontrei.
Ainda nao aprendi a viver sem ti.
Se me dessem um desejo eu sei
Que pedia a melhor amiga que perdi!

Vou-te sempre amar!
A rapariga que realmente amei.

domingo, 29 de julho de 2018

(des)pedaço

Há dias assim,
Em que pedaços de mim
Se arrancam à bruta
E me deixam nesta gruta.

Despedaçado ando por entre os mais completos
Ou que o finjem ser, como eu.
Secalhar andamos todos incompletos
Repletos de máscaras que a dor nos deu.

Sempre que me despedaço
Morro e um luto acontece.
Mas neste, o de agora, fracasso,
Porque nunca mais se desvanesse.

E para que se (des)vaneça
Não sei o que tenho de fazer.
Vou escrevendo, para que a cabeça
Não rebente de tanto doer!

E eu que pensava que não era amor.
Era! Camuflado naquilo que não era.
Agora esclarece-se na minha dor
Ou nos pensamentos que a dor gera!

segunda-feira, 23 de julho de 2018

(des)feito

Quem aguenta?
Perder dois pedaços do peito,
E tê-lo desfeito
Numa poça sangrenta?

Quem aguenta?
Diluir a poça em choro?
Lágrimas do meu corpo
Que assim se lamenta.

Quem aguenta?
Vê-lo assim a bater
Apenas para sobreviver
Enquanto se rebenta?

Se alguém aguenta,
Que me ensine, eu peço!
Porque a dor que eu meço
Não pára, só aumenta!

Se alguém aguenta,
Tenho pena por isso
Por tamanho crucifixo
Que pagas como renda!

Nesta vida a dor é certeza
E assumi-la não é fraqueza.
Que se não soube viver contigo,
Sem ti, ainda, nem sei se vivo.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

(des)alma

Tenho saudades de nós
Dando nós na cama.
Sem desatar porque quem ama
É um rio sem foz!

Tenho saudades da tua silhueta.
De a cartografar na minha mão
E de a manter secreta
Pensando que só os meus labios a beijarão!

Tenho saudades da tua alma
Que partiu e deixou o corpo.
Esse que me tira a calma
Mas que sem alma está morto!

Tenho saudades de ti.
Que partiste e foste sem destino.
Tudo o que vivi, vivi!
Mas sem ti, sigo o meu caminho.

Fica a carne, a pel e o osso.
O resto foste perdendo pouco a pouco.

domingo, 1 de julho de 2018

(des)fénix

Fénix, tu eras minha.
E eu a fogueira que te aquecia
Enquanto a minha chama morria,
Sem saber porque te tinha.

Fénix, cedemos ao que mudou.
Ao que dissemos nunca iríamos ceder.
Acabámos por morrer,
Quando cada um se apagou
Sem o outro o acender.

Fénix que me alimentavas
E que te alimentavas de mim...
Nunca pensei que assim chegasse o fim,
Cada vez que voavas.

Fénix, foram as últimas cinzas?
Serás mais alguma vez o meu fogo?
Outro pássaro... um novo,
A quem darei as boas vindas?

Fénix só existe uma. A minha!
Que te reacendas no meu peito,
Que faças de mim o teu eleito...
Que eu te tornarei rainha!


Só espero que me encontres,
Vinda das cinzas onde te escondes...

quarta-feira, 9 de maio de 2018

(des)encaixe

Eu sei o que queres ouvir
Então eu escrevo.
E sei o que quero dizer
Mas que não devo.

Neste misto de nós dois,
Não resisto e beijo-te.
Agarro-te, prometo-te e depois...
Deixo-te.

Só existo no toque da nossa pele.
Nas mãos, nos lábios.
Sabem a mel... Sabem a fel...
Ignorantes... Sábios....

Os meus mentem pra que os teus sorriam
E enquanto os feriam
Tremiam de saudade
Daquilo que sentiam.

Imperfeitos, seguiam.
E enquanto se guiavam
Mais duas lágrimas secavam
E mais duas almas morriam.

Sumiam...

Mas viver sem viver
É pior morte que morrer!
Então vive que eu morro...
Socorro...

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Hoje tenho de ecrever...


Hoje tenho de escrever, porque hoje não sei quem sou e o processo mental a que me obriga a escrita faz-me redescobrir.
Sei o meu nome, a minha historia e o que pretendo no futuro. O que tive, o que tenho e o que quero ter. Sei o que fui, o que quero vir a ser mas, então, como posso não saber quem sou neste preciso momento?
Engano-me tanto, minto-me sempre que penso ou tento decidir algo que julgo me irá definir.
Não posso ser concreto, falo encriptado, para que só eu saiba das minhas dúvidas. São minhas, não as quero expostas. Mas quero respostas. Como se o leitor, fosse um médico e eu não lhe contasse os sintomas todos mas, mesmo assim, esperasse a prescrição exata para a minha doença.

E o pior, é que eu sei o que preciso, as posologias, tudo! Mas não consigo decidir. Parece que a única jogada “jogável”, passo a redundância, é não jogar. Mas isso é ser um medricas por completo. Da cabeça aos pés! Mas… antes isso do que destruidor… de sonhos… dos outros! Será que prefiro sacrificar-me, calar-me, sofrer, em prol do outro? Que altruísmo. Não me sabia assim. Mas é verdade.
E o pior é que nunca hei de tomar aquele remédio que me tiraria deste estado. Mas que quero com uma força incrível sempre que estou em frente à montra a olhar para ele. O que é que acontece se eu entrar? É que nem sei se me deixam. Se posso. Só sei que quero!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

À noite no estádio

Oiço passos. Passadas!
Galope a ritmo forte!
Pessoas levantadas!...
Gritos de morte!


Oiço-os ofegantes!
E o público ao rubro
Por ve-los, aos grandes!
Eu quase surdo!

O derby acontece,
Vestidos de sombra!
Porque a história não esquece,
O que quer que o tempo esconda.

Oiço passos. Passadas!
São só folhas espalhadas
E os berros do vento
Que trazem outro tempo.

(Oiço passos. Passadas!
Mas estas são as minhas.
Ecoam nas bancadas,
Como o sonho destas linhas.)


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Homo Curvatis

Se passar uma gaivota
Lisboa não a nota
De cabisbaixo onde o fado
Está mais triste que no passado.

Oh mar injusto,
Não te bastava dar?
Tiras-te a todo o custo
O poder de sonhar.

Trouxeste o preto contigo
E espalhaste-o na cidade
E como se não chegasse
Cegaste o amor, bandido.

Inundaste o fado
Criaste a doença
Neste povo cansado,
Desolado, sem crença.

Agora só vê o azul infinito
Refletido no mar.
Como se tivesse perdido
A capacidade de se levantar.

Ergue-te!
Está mais que na hora!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ser poeta





Um poeta Escuta-se, E profeta Cura-se!
É doença Infinita. É crença Na perdida.
Desejo Imprudente, De beijo Absorvente.
Metamorfismo Impossível: Ser abismo, Ser incrível.
Preferir O nada, Sentir Cada.
É ser Inexistente. Simbionte De gente.
Parasita, Que recita, Chora e Vai embora.
Sombra Da verdade Sem corpo, Sem vontade.

Nevoeiro




É preciso afugentar todo este nevoeiro que sobre nós paira. Mais não somos descendência de antepassados corajosos e sôfregos que pintaram o azul do mar pela primeira vez. Deitados apodrecemos na encosta da História daquilo que fomos, que verbalizamos com medo de a termos de escrever de novo. E temos, só que sufocamos neste nevoeiro, neste fumo de nossa criação.


 


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer --
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


poema de Fernando Pessoa
pintura de René Magritte

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ambiguidade


Preferia não me lembrar que um dia me rasgaste a pele, quebraste o meu mundo num silêncio que se ouvia a polegadas de distância e numa dor incompreendida que era só minha. Por mim, apagava-te da minha memória e mudava-te para o outro lado do universo, sem haver uma única possibilidade de te reencontrar. Preferia que tivéssemos existido em épocas diferentes, em séculos distantes para não haver a possibilidade de nos cruzarmos nesta vida, se isso fosse possível. Preferia que a distância e o tempo fossem a maior realidade que alguma vez existiu entre nós. Sem algum dia te ter sorrido, confiado, acreditado, sentido. Preferia não saber se te arrependes ou não, se pensas, se respiras, se existes. Se vemos nos outros aquilo que nós próprios somos, então em ti, eu vi o pior de mim.



sábado, 30 de março de 2013

"Loucriar"

Criador por excelência
Cria dor sem precedência,
Amor sem conveniência
Desigual a quem só é vivência.

Quem cria não vive só,
Repleto de rebentos loucos
Imagina dinheiro em pó
Fiquem outros com os louros.

Serve só o prémio máximo
pintura de Magritte
De plantar vida em algo
Ínfimo.
Sem nunca atingir o alvo.

É ver o invisível,
Sentir o inatingível,
Voar dentro da terra,
Sussurrar como quem berra.

Proprietário da sua loucura
Sem responsabilidade,
Por ser escravo da lua
E da sua vontade.

Não tem idade
Nem conta os anos,
Como quem espera sentado
Que estes lhe infrinjam danos.

Revira as regras do jogo
E cria novas, como devem ser.
Afoga-se no fogo
De quem arde sem se ver.

Coisas simples onde se motiva,
Quem cria, vê a magia que não vês.
Que o faz aproveitar a vida
Um dia de cada vez.

domingo, 17 de março de 2013

Sem tempo para Sonhar



A minha alma chora desalmada.
http://www.thomaslekfeldt.com/story20.html
Inacreditavelmente acredita no que sente,
Sentimentos que a razão perde no nada.
E que eu preferia que se perdessem na mente.

Mas jorra-me para o corpo como uma cascata.
Simples água, diria Gedeão, e sal.
Redefinidos numa errata
Porque nada é mais do que tal.

Quebra-se em mim o silêncio, e assim me calo.
Revolta muda, que me muda e emudece.
O mundo verdadeiro cresce,
Enquanto eu me resumo, não falo.

Não me atrevo a adjectivar o quer que seja, do que restou.
Nada tem subjectividade!
Quando essa alegria que me alvejou,
Se fechou em tão tenra idade.

Assumo-me triste, certo
De que nada é certeiro.
Apenas que longe te senti perto,
E tudo era verdadeiro.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Quantas pernas tem o elefante?


Arminda


Sinceramente não esperava encontra-la naquele dia sozinha. Esperava encontrar a mesma vulnerabilidade, o mesmo esquecimento a mesma ignorância de todos os dias do mundo. Sentada a tremer de frio, ela aproximou-se de mim e não me lembro ao certo como começámos aquela estranha conversa. Deparei-me com a curiosidade da vida quando ainda eu tinha tantos anos pela frente e ela com toda a sabedoria do mundo quando já não lhe restavam muitos anos. Duas mulheres de gerações diferentes a sentir o mesmo frio na pele, o mesmo tempo. Disse-me que tinha pena dos jovens porque sabia o que era viver, disse-me que o frio nos tornava fortes, disse-me para não dar importância aos homens. Falou-me da vida, falou-me do mundo.

Ela soube e tinha certezas de tudo o que me disse, tinha visto a luz deste mundo em Dezembro de 1915 e era uma mulher linda. Uma mulher quase anjo, que para o ser só lhe faltou as asas naquele momento. Benzeu-me, abraçou-me e disse-me “Nunca mais te esqueças de mim”. 

“Nunca mais”.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Poetas

"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".- Lei de Lavoisier

      A poesia foi me apresentada, como provavelmente a vocês, na escola sob forma de textos antigos, escritos com um português que, e ainda por cima com o novo desacordo ortográfico, tinha apontamentos muito diferentes deste que agora apalavramos. Todos esses textos, escritos como se fossem prédios, mas construidos de cima para baixo ignorando todas as lógicas da razão(hoje percebo porquê), tinham algo em comum: tinham sido escritos noutro século, noutra época. Poucos eram os autores que podia ouvir a declamar a sua obra, de voz viva.

      Viveríamos sempre com textos séculos e séculos cada vez mais longínquos, a ensinar em Língua Portuguesa um português que nunca falámos nem ouvimos. Com textos poeirentos, pensamentos antigos por mais evoluídos que fossem, e entendimentos que eu nunca consegui perceber como podiam ser tão objectivos e alvos de tanta correcção por parte dos meus professores. Poemas não têm um só entendimento, depende do que passaram os olhos de quem os lê!(nunca me entenderam nisso).

      Essa magia que me enchia de prazer quando decifrava o que, para mim, tal construção de palavras representava no canto dos sentimentos, não se perdeu... reinventou-se.

      Eu agora oiço poesia, quase não a leio, sinto-a a entrar no meu corpo e vou a descobrindo sempre que oiço de novo, com novos sentidos na minha cabeça, e novas sensações no meu coração. Os poetas que a escrevem acrescentaram-lhe um ritmo contemporâneo, acrescentaram novas construções verbais.
Sempre conscientes de que são parte desses textos eruditos, um poeta nunca esquece de onde vem nem de onde vem a sua poesia.

      É incrível o liricísmo que por hoje corre nestas rua, em phones, em rádios de carros, em computadores, em trechos que ficaram presos repetidamente na cabeça de outro apaixonado lunático.

      Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde ficariam orgulhosos por saber que aquilo que faziam, ainda que de outra forma, ganhou uma nova vida e não se perdeu no esquecimento de um velho livro numa velha biblioteca. Tal como um pai se orgulha de um filho que ganhou saber-viver depois de ter aprendido consigo.


Contemporâneo
Royalistick

A vida segue, embala
Numa voz que acalma,
Num sussurro de esperança
Que te cansa
E que te cala.
E avança, não para.
Não espera, nao fala.
Não dá sentido a nada
E tu não consegues chamá-la.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Isolado

Tenho sentimentos que desconheço, então como posso saber quem sou se nem a mim me convenço? Tenho comportamentos órfãos para mim, perdidos, que nem sei o que revelam, escondidos, com medo desse monstro que possa existir, e que não se destrói com qualquer elixir. Sinto-me acorrentado a este instável estado de desconhecimento, acorrentado a uma indestrutível parede de cimento. Se me lembrasse de como tudo era antes de me lembrar, talvez acharia razão que me leva a isolar. Falta me algo e o mundo pensa que tenho tudo, e falo demais quando desejo ser mudo. Porque já não tenho quem me perceba e me aconselhe, quem me traga terra e faça com que me olhe a um espelho, mostrando-me quem sou e para onde vou. Perdi o rasto das pegadas que me iam dando caminho, cortando-se na frente, sofrendo para eu não estar sozinho. Perdias num precipício e voar eu não sei, por isso continuo aqui em cima, sozinho, sem pista de para onde irei.

Volta para trás que eu acorrento este monstro e sigo-te, para onde quer que vás.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Senti(do)

Hoje faz-me sentido tudo. Agora faz-me sentido ter saído de casa e correr sem destino. Faz-me sentido ter passado por tanta gente, ter visto e sentido tantas coisas. Faz-me sentido ter descido uma escadaria enorme em direcção à praia e não saber ao certo como tinha chegado ali. Contemplar o horizonte com um olhar concomitante, ouvir o som do mar a tentar verbalizar, sentir o paladar de sal e energia, sentir o ar fresco na pele e a água a tocar-me nos pés e a subir lentamente. Continuar a correr pela praia fora, querer que o momento e o mundo mude e que não haja mais nada para além da felicidade. Hoje e neste momento tudo me faz sentido. Faz-me sentido ver-te agora e que te aproximes a correr também. Parámos ambos por momentos, e ambos sabíamos que fazia sentido termos parado fixamente e cruzado olhares de anos apesar de nos vermos pela primeira vez. Ambos falávamos línguas diferentes mas naquele momento as nossas línguas foram um idioma só, no qual não precisávamos de dizer nada para saber tudo. Seguimos caminhos diferentes sem saber quando nos voltaríamos a ver porque hoje faz sentido sentir que nos vamos voltar a ver um dia.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Prisioneiro fora de mim

Sempre que me olhas,
Meu mundo reduz-se a isso:
Labirinto em bolas
Onde perco meu juízo.



  

sábado, 15 de dezembro de 2012

Fuga do paraíso

Existirá nesta existência, maior inocência do que a de uma gota de chuva a cair do paraíso para a terra da demência?


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Na pobreza das ruas a única coisa que existe é dinheiro...

Este é mais um dia em que me levanto num lugar diferente com dores no corpo que a veia de ser velho nem sempre aguenta. Sítios diferentes e descoordenados que me tocam,  num mundo que não me compreende e que nem eu sei se existe sequer. Parece-me impossível. O tempo deixou-me de existir à muito quando ser português era ser descobridor e herói. Hoje são só portugueses e nada mais do que isso. Portugueses nascidos e que morrerão sem serem recordados. Caminhei sabendo que cada passo é uma luta que tento aguentar. Olhei o céu e desejei alcançá-lo nestes dias que não me parecem dias mas uma temporalidade incompreensível. Continuei. Cheguei ao jardim, procurei comida num caixote. Tinha fome. À minha frente uma esplanada abastada cheia de um povo que parece unido. Vi um bolo cair ao chão, derrubado por uma criança que chorava por não o querer comer, homens a desabotoar as calças por estarem cheios, outros a olharem-me com repugnância e eu à procura de comida num caixote que já nada tinha. Um mundo derrubado que não sabia nada acerca das minhas rugas, das minhas cicatrizes e da minha alma. Lutei por todos na guerra do Ultramar, vi pessoas morrerem ao meu lado, tive vontade de morrer também mas lutei para sobreviver e o valor disso é o olhar de repugnância que me fazem agora, neste preciso momento. Senti no ombro uma mão. Olhei. Essa mão trazia-me comida, olhei-a nos olhos e agradeci emocionado sem verbalizar qualquer palavra, ela disse de nada sem se ter ouvido o som da voz e ainda sorriu. 
Anoiteceu e nessa noite consegui sonhar...


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ἀποκάλυψις

Cremo-nos grandes
E tão pequenos somos,
Achamo-nos  importantes
E inúteis sempre fomos.

Queremos ser especiais,
E somos todos idênticos.
Queremos ser ricos de mais,
E somos todos mendigos.

Somos inteligentes,
E ...


Perfeição não se sente

Ninguém sabe quem deveras é,
E que apenas representa ser,
Até à chegada do que o sonho quer
Que encerra a verdade e olhos de ver.

Perfeito onde não me toco e tudo sinto,
Onde me choco porque não me minto.
Atinjo o clímax e desespero.
Ali, sei que te quero!

Respeito-te, por isso me amas.
Aceito-te e deito-te em mil camas,
Com pétalas e champanhe.
Enches dois copos, para que te acompanhe.

Apenas não te ofereço Marte
Porque Marte não existe.
Resta-me amar-te
Enquanto o sonho subsiste.




terça-feira, 30 de outubro de 2012

Quem ama não trai


               Durante toda a minha existência ouvi histórias de casais que se traem mutuamente confundido desesperadamente os seus sentimentos por alguém. Quando era mais nova e expressava a minha opinião sobre a traição era um alvo de punição por parte das gerações mais velhas da minha família que rematavam com o único argumento que tinham de que eu era uma adolescente e que nada sabia sobre o amor.
                Eu acredito que quem ama não trai e por isso mesmo acredito que nunca iria conseguir perdoar uma traição porque eu mesma acho-me incapaz de o fazer. O ser adulto cronogicamente não corresponde necesariamente a ser adulto a nível psicológico. A traição não é uma questão moral mas sim uma falta de desenvolvimento psicológico a nível emocional e afectivo vivido numa relação. Saber amar é um processo complexo e exigente que se formula ao longo da nossa vida.
 
Ninguém nasce a saber amar, amar aprende-se.
 
               Não me falem em deslizes, impulsos inconcientes do momento ou algo que não sabem como aconteceu. Se houve traição não há desculpas. Se houve traição é porque se deu espaço para que tal acontecesse e nessa altura é caso para reavaliar o nosso "amor".




sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Miúdo sem gravidade

    Olá, sou um "miúdo sem gravidade", não vale a pena saberes o meu nome porque nem mesmo eu sei, mas ainda assim gosto de pensar que tenho um. Eu gosto de passear. Os meus passeios são diferentes. Eu vejo o mundo flutuando. Eu ando sem tocar num chão, e o sangue nunca me sobe à cabeça. Eu nem sequer respiro. Não como, não durmo, mas adormeço. Quando acordo, questiono tudo daqui de onde estou. Porque é que todos estão colados ao chão e eu não? Também não quero, aqui estou bem.
   
     Não tenho pai nem mãe e não sou órfão. Não vim de cegonhas, simplesmente existo aqui neste ar onde tudo é diferente. Não oiço, não toco, só vejo e penso em simultâneo porque só ver é mau, e só pensar também. As coisas ganham então forma como são na minha realidade, e encontro respostas que nunca tiveram perguntas. Sinto apenas o vento, e o vento trás-me sentimentos. Só vejo apenas uma cor para não cansar os olhos, a minha preferida, azul.

    As vezes estou flutuando, vendo e pensando sem ver nem pensar, que é quando descanso, e brutidões de azuis e pensamentos aparecem-me a frente, fazendo-me perguntar como é possivel ver tais imagens que me chegam daí, desse vosso mundo... Onde estão alegres por estarem tristes, onde vêm todas as cores e vivem cansados, e onde ouvem, tocam, vêm, mas nunca pensam. 

    E vejo permanentemente este rapaz colado ao chão a querer soltar-se, sozinho, mas não parece ter força, então ele olha para mim e fica com inveja por eu ter nascido livre. Gostava de o poder ajudar, mas só o posso ver, nem lhe posso tocar...


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Acredito que o passado dura toda a nossa existência...

              Precisámos de Copérnico para saber que o nosso planeta tal como muitos outros gira em volta do sol e não somos o centro do universo como até então se pensava. Precisámos de Darwin para saber que não somos um organismo diferenciado dos restantes mas sim resultado de um processo evolutivo de espécies que se adaptou ao meio. Precisámos de Freud para saber que o consciencte não é o único a governar as nossas vidas e que talvez seja mesmo o inconsciente o seu maior habitante.


           Tudo acontece num tempo, num espaço, num momento. Eu acredito que é importante incorporar que o tempo presente é uma síntese do tempo passado e uma projecção em torno do tempo futuro. Eu não sei se o tempo tem a mesma durabilidade para mim como para alguém, nem sei quanto tempo dura o passado e nunca ninguém saberá isso ao certo. Acredito que há momentos passados que podem durar toda a nossa existência porque foram vividos por nós próprios e nos marcaram de alguma maneira, então procedemos a uma memória selectiva desses acontecimentos formada sim por sinapses e conexões cerebrais que permitem esse acesso consciente.

           Tal como tu Ruben, eu delicio-me a estudar Psicologia e a compreender melhor que nunca, a cada dia que passa, quase tudo o que se passa à minha volta. Eu acredito no que uma amiga me disse um dia e que eu nunca tinha pensado ao certo: "Se quem estuda matemática pode torna-se um bom matemático, quem estuda psicologia pode tornar-se melhor pessoa." e nisto não há especialista que o poderia dizer melhor que Carl Rogers, que estudou o comportamento humano e focou-se em como nos tornarmos pessoas.

          Não me considero melhor do que ninguém, mas hoje tenho noção que vou evoluir até morrer, tenho uma sensibilidade muito maior e compreendo muito mais e vejo as coisas de maneira diferente do que há algum tempo atrás. No entanto, eu sofro, rio, choro, irrito-me, amo, desabafo, sinto falta, saudades como qualquer outra pessoa no mundo. Continuo com defeitos e quem estuda Psicologia não deixa nunca de ser pessoa, eu não fico indiferente ao sofrimento do outro antes pelo contrário, aprendi a dar tudo de mim para ajudar e o meu objectivo de vida é tornar-me melhor pessoa a cada dia que passa.
Acredito na mudança e acredito que podemos mudar o mundo no presente, para termos um futuro melhor e um dia olharmos todo este passado como algo único!


 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Uma Hora demasiado longa

Nevoeiro



    
    É hora de mudarmos uma cultura há muito assente em conquistas passadas. De destronar a hipocrisia que reina. De fazer o que deve ser deveras feito. De perceber que nós é que estamos errados.
    É hora de ser Portugal muito antes da chegada do nevoeiro, quando o sol das expectativas e do trabalho para as exceder acontecia por cima das nossas cabeças.
    E tu, português, não achas que é hora?

 

sábado, 13 de outubro de 2012

Quanto tempo dura o passado?

    Uma das minhas disciplinas preferidas só a descobri no 12º ano, Psicologia, que trata da compreensão(logos) que temos sobre a nossa "alma"(psyché). Corrija-me se cometo algum erro, senhora estudante universitária de Psicologia.
    Foi um ano de pura descoberta de mim mesmo, naqueles 90 minutos bi-semanários tudo começava a encaixar como peças de um puzzle que nos completa e aprisiona.
    Lembro-me a certa altura de ler Santo Agostinho, que com palavras e frases quase sem sentido foi cravando na minha mente certas ideias que por vezes me saltam à cabeça como se estivessem "organizadas por gavetas no meu cérebro". Lê-mos Sto. Agostinho a falar da nossa memória que é a capacidade de relembrar experiências vividas anteriormente, num tempo posterior. 
    A memória só nos trás o passado.
    O passado é o que já passou, o que já passei. 
    Mas pergunto-me quanto tempo dura o passado? Como tenho a mania que me respondo, e que a primeira ideia que tenho se enclausura na minha cabeça e não sai... Será que o passado tem apenas o tempo de uma memória? E sendo esta apenas sinapses e conexões cerebrais que acontecem em micro-segundos, não será este o tempo do passado?
    Quando eu penso no passado, não passa de memória de um tempo que agora se resume à minha cabeça. Eu resumo todo o meu passado em memórias, em pouco tempo... todo o passado é efémero... assim como o presente, que acabou e agora já é passado... já é memória! 


    Que venha mais futuro, que se transforma em presente, e se encerra num passado supersónico.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Talvez...


Talvez tenhas aparecido mas desaparecido num ápice.
Talvez te tenhas quebrado e te transformado em pó, agora mesmo, agora neste preciso momento em que escrevo. E talvez tenha entrado nesta janela um vento fortíssimo que me tenha impedido de escrever por momentos, para levar as tuas cinzas derramadas nas minhas lágrimas.
 
Talvez este seja o vento do meu anjo da guarda,
que me levou todo o sofrimento agora mesmo,
que fechou a janela ao sair, depois de me ter secado,
todas as lágrimas caídas dos meus olhos infinitos. 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

É isto que eu quero

    Eu quero gritar até à estratosfera tudo o que eu quero! E o que eu quero é um simples que vira complicado.
    Quero saber tomar as decisões certas para mim e para os outros, mesmo que por vezes elas não existam, porque deveria existir sempre um caminho alternativo à dor. Quero poder resolver problemas pelo simples facto de querer, mas enganaram-me e querer já não é poder.
    Quero um dia longe dos meus pensamentos, das minhas poucas preocupações. Onde não tenho de pensar em mim, e visto que eu sou um pouco de todos os que me rodeiam, sem ter de pensar em ti e em todos... Apenas quero viver encharcado, por exemplo, na filosofia de vida de Alberto Caeiro, que nem sequer assenta em filosofias, para sentir-me a mim o mais íntimo possível. Conhecer-me quando não tenho de conhecer outras coisas, quando aceito tudo e sei que tudo me aceita como quero ser, como sou, como estou naquele preciso e eterno momento.
    Na minha cabeça tudo isto faz sentido, e por momentos apetece-me fugir e ficar isolado de telemóveis, televisões, tecnologias, informações, diálogos... só quero dialogar com uma folha de papel e uma caneta onde apenas eu distingo os meus "a's" dos meus "o's", não sendo julgado pela forma idêntica com que aparecem aos olhos de outra pessoa.


  É isto que eu quero. Eu quero tudo o que não tenho... Mas como tenho tudo, eu quero o nada, e não quero sentir-me mal agradecido por o querer.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Despedida numa Esplanada

 
            Eu vou explicar-te tudo. Eu vou. Mas não sei por onde começar. Sabes, um dia morrerei e não vou ser, nunca, capaz de te dizer estas palavras que tento agora dizer-te. Por isso, quero explicar-te tudo e não adiar mais. Sabes, eu vou morrer. Eu sei que também morrerás, e um dia, todas as pessoas que estão à nossa volta, nesta esplanada, também morrerão, porque existem e porque são vida. No entanto, há uma diferença. Uma diferença que provavelmente separa temporalmente a minha morte da maioria das pessoas que estão aqui. Eu não vou fazer exames. Eu não vou nunca, conseguir ficar curado desta doença que me destrói aos poucos, antes de matar de vez. Eu não vou lutar por esta doença porque já não tenho mais forças e não consigo mais. Estou cansado. Perdoa-me! Eu tentei, a sério que tentei, mas não vou lutar mais pela minha vida, nem quebrar o que diz a medicina.
 
          Ainda tenho uma coisa para te dizer, antes de partir. Sabes, esse vestido branco fica-te mesmo muito bem. Sim, eu sei que já te vi muitas vezes com ele vestido. Mas, os meus olhos nunca te viram com tanta meditação como hoje. Quero que sejas feliz e que relembres este momento, que é o nosso verdadeiro momento. Este momento que nos separa e que me destrói. Nunca chores por nada do que fomos... nem chores ao relembrar este encontro. Eu ficarei bem. Sabes, eu amo-te... Até amanhã! 
Desenho de Fly.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Liberdade

    Será que somos livres?
    Sinto-me preso, aprisionado com todos vocês, cada um na sua minúscula cela perpétua. E a maior parte aí ficará, comendo e bebendo aquilo que recebem de fora, e dormindo sem nunca sonharem sair dessa rotina enclausurada. Tenho pena, mesmo que também eu esteja condenado a essa liberdade sempre, mas sempre condicional.
    Por onde quer que olhe, só me atropelam regras e leis. Cada uma mais restringente que a anterior, remetendo-se umas para as outras, criando uma teia, que tal e qual as de uma aranha, servem para nos aprisionar e, mais tarde, decidirem o nosso destino. Ou fado, como quiserem chamar, mas isso não nos trás liberdade...
    Pasmem-se, se conseguirem, quando digo que existem formas de escapar a essa prisão, que nos parece tão sólida. Nascemos com ferramentas para lhe resistir, mas conforme crescemos vão-se-nos sendo tiradas do nosso poder, ficando só pele, osso e obediência. Essas ferramentas eu vejo-as, rodeando e recheando crianças inocentes que mais tarde as vão doar ao esquecimento. São poucos os que com elas ficam, mas os que ficam, criam e encantam, erram e experimentam, vivem e libertam-se dessas regras, nunca de todas... Aquelas as quais a Imaginação permite escapar, essa que é a maior e mais especial ferramenta que alguma vez possuímos... E a que todos deixamos ir, com a falsa promessa de que as regras bastam para um falso conforto, que nunca chega... E continuamos prisioneiros, a vê-los livres do lado de fora.
   


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Marinheiro sonhador

    Ele intitula-se de "marinheiro dos sentimentos", tem o coração como mar e o cérebro como tempestade. Todos os dia se lança às águas sem saber como as navegar, sem saber o que vai usar como leme, e perigosamente ignorando se o seu barco resiste ás tempestades longas e teimosas. Diz que se não sair nao vive, não é marinheiro, porque viver é tomar riscos, enfrentá-los e ganhá-los.
    Não tem porto habitual, nenhum serve para a sua, a seus olhos, grandiosa embarcação, que não passa de uma lata flutuante, quase desafiando algumas leis da física.
    Sonha com águas mansas e profundas, com azuis e verdes que o façam perder horas a pousar os seus olhos onde tais cores se misturam. Tirando desse precioso líquido, indispensável à vida, alimento para a alma e para o corpo, que sempre se subjugará a desejos carnais. É esse o sonho, e o sonho move a vida, ele apenas vive para sonhar, e sonha para viver.
    E quando sentir essas águas a correrem lentamente à sua volta, pergunto-me se não viverá mais. Se a sua vida acaba, ou se o sonho morre. Se a lata não volta a navegar e a viver tormentos impiedosos que com a esperança do sonho não passam de meros obstáculos ultrapassáveis. Pergunto-me se sonhar não se torna por si só num perigo, apenas pela possibilidade de se obter na realidade o sonho.
    Não é preocupação para a sua cabeça sempre coberta de água e sal, e continua, casmurro, enfrentando o mar com a ignorância que trás sobre a orientação do norte e do sul... apenas vive e sonha.


vive o sonho, sê marinheiro(a).

domingo, 9 de setembro de 2012

Quando somos os únicos a sonhar…


          Esta noite tive uma multidão de sonhos. Saí para a rua. Precisava de um sinal e por isso saí para a rua depois de enfiar no meu corpo um vestido branco e de ter lavado a cara em frente ao espelho, pensando sempre nos sonhos. Saí para a rua e nela também estava uma multidão. Pessoas, muitas pessoas mas a multidão era mais do que isso.

       Precisei de sair para a rua inundada de sonhos para perceber uma outra realidade. Entre os meus sonhos e aquela rua cheia de uma multidão, havia assassinos, havia ladrões e havia violadores que todos esperam ver no outro lado do mundo. Naquela rua havia pessoas que apontam as falhas dos vizinhos mas que também as têm, havia pessoas que levam uma vida inteira a invejar outras, havia filhos deixados esquecidos em creches, adolescentes a drogarem-se e a beberem sem um amanhã, homens e mulheres a traírem-se mutuamente, havia idosos abandonados, alguns mortos e esquecidos. Naquela rua havia muitos segredos, muitos mitos, muita corrupção, muitas palavras que não se diziam por não ficar bem e que por isso eram recalcadas e supostamente esquecidas. Naquela rua havia quem simplesmente não tivesse sonhos.

         Precisei de crescer durante anos para me aperceber de alguma cegueira que tinha acerca do mundo e que penso ainda não me estar curada na totalidade. Naquela rua e naquele dia cansei-me de ver existir uma multidão sem sonhos e de ver a existência dos meus sonhos serem uma multidão. Voltei para casa com o vestido preto e naquele dia não quis sair mais à rua.




       'Os sonhos só são sonhos porque os sonhamos', por isso voltei a sair à rua no dia seguinte na expectativa de que o mundo estivesse diferente, como eu. 


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Quem nos magoa, ensina

  



Hoje compreendo tudo o que não compreendia há anos atrás por ser criança. Hoje compreendo porque não me abraçavas com a mesma vontade. Compreendo porque não ficavas comigo, ver-me adormecer ou ficavas a meu lado quando estava doente. Sei que preferias ver notícias repetidas do que te sentares comigo no chão da sala para brincarmos sempre com coisas diferentes. Sei que não ouvias metade do que te dizia ou do que te tentava dizer, por estares atento a algo mais importante para ti. Hoje sei que preferias trocar-me por um baralho de cartas e uns tantos cigarros. Sei que preferias isso, mesmo que eu desafiasse a perfeição.

Um dia compreendi que podia até ser a melhor do mundo em tudo e mais alguma coisa mas que isso não é a razão para que nos amem porque eu sabia amar-te. Hoje sei o valor do amor, de um abraço, de um olhar porque um dia me ensinaste o valor do desprezo, da troca, da rejeição. Aprendi a colocar de lado as perfeições que idealizava, aprendi que nunca prenderei ninguém e quem entrou tem todo o espaço para sair das nossas vidas. Não existo nem nasci para segundas opções na vida de ninguém.
Nunca saberás mais nada sobre a minha pele porque eu só perdo-o erros humanos. Sem ti obtive diploma de perfeição a muitos olhos mas também já fracassei tantas vezes, falhei tantas vezes e chorei tantas vezes. Sem ti já corri muito longe para não ter que ver mais ninguém no mundo mas percebi que não valia a pena. Tudo, sem ti. Hoje sei o que talvez demores anos e anos a tentar aprender e talvez morras mesmo sem saber nada.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Os deuses são deuses, porque não se pensam"


“Os deuses são deuses
Porque não se pensam.”
- escreveu Fernando Pessoa.

  O mundo gira na cabeça de cada um de nós, somos ziliões de peças num puzzle que, no final, mostra uma imagem quase perfeita. Imagem que aconteceu por acaso, apenas porque não foi pensada. Foi criação de um autor desprovido de capacidade mental. Autor esse que assina por Natureza.
  E as hipóteses de tal acontecer? Nada falhou. Tudo tem um propósito. Tudo! E afinal nada foi pensado.
  E eu? Que propósito tenho? E tu? Nós só desconhece-mos esse propósito, o tal “sentido da vida” porque pensamos nele, se não o racionaliza-se-mos ele aparecia claro, transparente aos nossos olhos.
  Eu penso que sou alto, e depois vejo-me a olhar para cima para falar com alguém ainda mais alto, e torno-me pequeno. Eu penso que sou um atleta normal, e de repente, dou por mim a vencer uma prova. Depois eu penso que sou bom atleta, vem alguém e fica á minha frente na chegada. Então eu penso que não devia pensar, para ser perfeito... E depois, adormeço com pensamentos destes... na noite (im)pensativa.
  Ninguém pensou a noite, ninguém arquitectou o dia. Ninguém criou a morte. Mas todos pensamos na vida. Eis a razão de não sermos perfeitos.