domingo, 9 de setembro de 2012

Quando somos os únicos a sonhar…


          Esta noite tive uma multidão de sonhos. Saí para a rua. Precisava de um sinal e por isso saí para a rua depois de enfiar no meu corpo um vestido branco e de ter lavado a cara em frente ao espelho, pensando sempre nos sonhos. Saí para a rua e nela também estava uma multidão. Pessoas, muitas pessoas mas a multidão era mais do que isso.

       Precisei de sair para a rua inundada de sonhos para perceber uma outra realidade. Entre os meus sonhos e aquela rua cheia de uma multidão, havia assassinos, havia ladrões e havia violadores que todos esperam ver no outro lado do mundo. Naquela rua havia pessoas que apontam as falhas dos vizinhos mas que também as têm, havia pessoas que levam uma vida inteira a invejar outras, havia filhos deixados esquecidos em creches, adolescentes a drogarem-se e a beberem sem um amanhã, homens e mulheres a traírem-se mutuamente, havia idosos abandonados, alguns mortos e esquecidos. Naquela rua havia muitos segredos, muitos mitos, muita corrupção, muitas palavras que não se diziam por não ficar bem e que por isso eram recalcadas e supostamente esquecidas. Naquela rua havia quem simplesmente não tivesse sonhos.

         Precisei de crescer durante anos para me aperceber de alguma cegueira que tinha acerca do mundo e que penso ainda não me estar curada na totalidade. Naquela rua e naquele dia cansei-me de ver existir uma multidão sem sonhos e de ver a existência dos meus sonhos serem uma multidão. Voltei para casa com o vestido preto e naquele dia não quis sair mais à rua.




       'Os sonhos só são sonhos porque os sonhamos', por isso voltei a sair à rua no dia seguinte na expectativa de que o mundo estivesse diferente, como eu. 


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