sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Miúdo sem gravidade

    Olá, sou um "miúdo sem gravidade", não vale a pena saberes o meu nome porque nem mesmo eu sei, mas ainda assim gosto de pensar que tenho um. Eu gosto de passear. Os meus passeios são diferentes. Eu vejo o mundo flutuando. Eu ando sem tocar num chão, e o sangue nunca me sobe à cabeça. Eu nem sequer respiro. Não como, não durmo, mas adormeço. Quando acordo, questiono tudo daqui de onde estou. Porque é que todos estão colados ao chão e eu não? Também não quero, aqui estou bem.
   
     Não tenho pai nem mãe e não sou órfão. Não vim de cegonhas, simplesmente existo aqui neste ar onde tudo é diferente. Não oiço, não toco, só vejo e penso em simultâneo porque só ver é mau, e só pensar também. As coisas ganham então forma como são na minha realidade, e encontro respostas que nunca tiveram perguntas. Sinto apenas o vento, e o vento trás-me sentimentos. Só vejo apenas uma cor para não cansar os olhos, a minha preferida, azul.

    As vezes estou flutuando, vendo e pensando sem ver nem pensar, que é quando descanso, e brutidões de azuis e pensamentos aparecem-me a frente, fazendo-me perguntar como é possivel ver tais imagens que me chegam daí, desse vosso mundo... Onde estão alegres por estarem tristes, onde vêm todas as cores e vivem cansados, e onde ouvem, tocam, vêm, mas nunca pensam. 

    E vejo permanentemente este rapaz colado ao chão a querer soltar-se, sozinho, mas não parece ter força, então ele olha para mim e fica com inveja por eu ter nascido livre. Gostava de o poder ajudar, mas só o posso ver, nem lhe posso tocar...


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