sexta-feira, 15 de março de 2013

Arminda


Sinceramente não esperava encontra-la naquele dia sozinha. Esperava encontrar a mesma vulnerabilidade, o mesmo esquecimento a mesma ignorância de todos os dias do mundo. Sentada a tremer de frio, ela aproximou-se de mim e não me lembro ao certo como começámos aquela estranha conversa. Deparei-me com a curiosidade da vida quando ainda eu tinha tantos anos pela frente e ela com toda a sabedoria do mundo quando já não lhe restavam muitos anos. Duas mulheres de gerações diferentes a sentir o mesmo frio na pele, o mesmo tempo. Disse-me que tinha pena dos jovens porque sabia o que era viver, disse-me que o frio nos tornava fortes, disse-me para não dar importância aos homens. Falou-me da vida, falou-me do mundo.

Ela soube e tinha certezas de tudo o que me disse, tinha visto a luz deste mundo em Dezembro de 1915 e era uma mulher linda. Uma mulher quase anjo, que para o ser só lhe faltou as asas naquele momento. Benzeu-me, abraçou-me e disse-me “Nunca mais te esqueças de mim”. 

“Nunca mais”.


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