sábado, 22 de dezembro de 2012

Prisioneiro fora de mim

Sempre que me olhas,
Meu mundo reduz-se a isso:
Labirinto em bolas
Onde perco meu juízo.



  

sábado, 15 de dezembro de 2012

Fuga do paraíso

Existirá nesta existência, maior inocência do que a de uma gota de chuva a cair do paraíso para a terra da demência?


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Na pobreza das ruas a única coisa que existe é dinheiro...

Este é mais um dia em que me levanto num lugar diferente com dores no corpo que a veia de ser velho nem sempre aguenta. Sítios diferentes e descoordenados que me tocam,  num mundo que não me compreende e que nem eu sei se existe sequer. Parece-me impossível. O tempo deixou-me de existir à muito quando ser português era ser descobridor e herói. Hoje são só portugueses e nada mais do que isso. Portugueses nascidos e que morrerão sem serem recordados. Caminhei sabendo que cada passo é uma luta que tento aguentar. Olhei o céu e desejei alcançá-lo nestes dias que não me parecem dias mas uma temporalidade incompreensível. Continuei. Cheguei ao jardim, procurei comida num caixote. Tinha fome. À minha frente uma esplanada abastada cheia de um povo que parece unido. Vi um bolo cair ao chão, derrubado por uma criança que chorava por não o querer comer, homens a desabotoar as calças por estarem cheios, outros a olharem-me com repugnância e eu à procura de comida num caixote que já nada tinha. Um mundo derrubado que não sabia nada acerca das minhas rugas, das minhas cicatrizes e da minha alma. Lutei por todos na guerra do Ultramar, vi pessoas morrerem ao meu lado, tive vontade de morrer também mas lutei para sobreviver e o valor disso é o olhar de repugnância que me fazem agora, neste preciso momento. Senti no ombro uma mão. Olhei. Essa mão trazia-me comida, olhei-a nos olhos e agradeci emocionado sem verbalizar qualquer palavra, ela disse de nada sem se ter ouvido o som da voz e ainda sorriu. 
Anoiteceu e nessa noite consegui sonhar...


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ἀποκάλυψις

Cremo-nos grandes
E tão pequenos somos,
Achamo-nos  importantes
E inúteis sempre fomos.

Queremos ser especiais,
E somos todos idênticos.
Queremos ser ricos de mais,
E somos todos mendigos.

Somos inteligentes,
E ...


Perfeição não se sente

Ninguém sabe quem deveras é,
E que apenas representa ser,
Até à chegada do que o sonho quer
Que encerra a verdade e olhos de ver.

Perfeito onde não me toco e tudo sinto,
Onde me choco porque não me minto.
Atinjo o clímax e desespero.
Ali, sei que te quero!

Respeito-te, por isso me amas.
Aceito-te e deito-te em mil camas,
Com pétalas e champanhe.
Enches dois copos, para que te acompanhe.

Apenas não te ofereço Marte
Porque Marte não existe.
Resta-me amar-te
Enquanto o sonho subsiste.




terça-feira, 30 de outubro de 2012

Quem ama não trai


               Durante toda a minha existência ouvi histórias de casais que se traem mutuamente confundido desesperadamente os seus sentimentos por alguém. Quando era mais nova e expressava a minha opinião sobre a traição era um alvo de punição por parte das gerações mais velhas da minha família que rematavam com o único argumento que tinham de que eu era uma adolescente e que nada sabia sobre o amor.
                Eu acredito que quem ama não trai e por isso mesmo acredito que nunca iria conseguir perdoar uma traição porque eu mesma acho-me incapaz de o fazer. O ser adulto cronogicamente não corresponde necesariamente a ser adulto a nível psicológico. A traição não é uma questão moral mas sim uma falta de desenvolvimento psicológico a nível emocional e afectivo vivido numa relação. Saber amar é um processo complexo e exigente que se formula ao longo da nossa vida.
 
Ninguém nasce a saber amar, amar aprende-se.
 
               Não me falem em deslizes, impulsos inconcientes do momento ou algo que não sabem como aconteceu. Se houve traição não há desculpas. Se houve traição é porque se deu espaço para que tal acontecesse e nessa altura é caso para reavaliar o nosso "amor".




sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Miúdo sem gravidade

    Olá, sou um "miúdo sem gravidade", não vale a pena saberes o meu nome porque nem mesmo eu sei, mas ainda assim gosto de pensar que tenho um. Eu gosto de passear. Os meus passeios são diferentes. Eu vejo o mundo flutuando. Eu ando sem tocar num chão, e o sangue nunca me sobe à cabeça. Eu nem sequer respiro. Não como, não durmo, mas adormeço. Quando acordo, questiono tudo daqui de onde estou. Porque é que todos estão colados ao chão e eu não? Também não quero, aqui estou bem.
   
     Não tenho pai nem mãe e não sou órfão. Não vim de cegonhas, simplesmente existo aqui neste ar onde tudo é diferente. Não oiço, não toco, só vejo e penso em simultâneo porque só ver é mau, e só pensar também. As coisas ganham então forma como são na minha realidade, e encontro respostas que nunca tiveram perguntas. Sinto apenas o vento, e o vento trás-me sentimentos. Só vejo apenas uma cor para não cansar os olhos, a minha preferida, azul.

    As vezes estou flutuando, vendo e pensando sem ver nem pensar, que é quando descanso, e brutidões de azuis e pensamentos aparecem-me a frente, fazendo-me perguntar como é possivel ver tais imagens que me chegam daí, desse vosso mundo... Onde estão alegres por estarem tristes, onde vêm todas as cores e vivem cansados, e onde ouvem, tocam, vêm, mas nunca pensam. 

    E vejo permanentemente este rapaz colado ao chão a querer soltar-se, sozinho, mas não parece ter força, então ele olha para mim e fica com inveja por eu ter nascido livre. Gostava de o poder ajudar, mas só o posso ver, nem lhe posso tocar...


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Acredito que o passado dura toda a nossa existência...

              Precisámos de Copérnico para saber que o nosso planeta tal como muitos outros gira em volta do sol e não somos o centro do universo como até então se pensava. Precisámos de Darwin para saber que não somos um organismo diferenciado dos restantes mas sim resultado de um processo evolutivo de espécies que se adaptou ao meio. Precisámos de Freud para saber que o consciencte não é o único a governar as nossas vidas e que talvez seja mesmo o inconsciente o seu maior habitante.


           Tudo acontece num tempo, num espaço, num momento. Eu acredito que é importante incorporar que o tempo presente é uma síntese do tempo passado e uma projecção em torno do tempo futuro. Eu não sei se o tempo tem a mesma durabilidade para mim como para alguém, nem sei quanto tempo dura o passado e nunca ninguém saberá isso ao certo. Acredito que há momentos passados que podem durar toda a nossa existência porque foram vividos por nós próprios e nos marcaram de alguma maneira, então procedemos a uma memória selectiva desses acontecimentos formada sim por sinapses e conexões cerebrais que permitem esse acesso consciente.

           Tal como tu Ruben, eu delicio-me a estudar Psicologia e a compreender melhor que nunca, a cada dia que passa, quase tudo o que se passa à minha volta. Eu acredito no que uma amiga me disse um dia e que eu nunca tinha pensado ao certo: "Se quem estuda matemática pode torna-se um bom matemático, quem estuda psicologia pode tornar-se melhor pessoa." e nisto não há especialista que o poderia dizer melhor que Carl Rogers, que estudou o comportamento humano e focou-se em como nos tornarmos pessoas.

          Não me considero melhor do que ninguém, mas hoje tenho noção que vou evoluir até morrer, tenho uma sensibilidade muito maior e compreendo muito mais e vejo as coisas de maneira diferente do que há algum tempo atrás. No entanto, eu sofro, rio, choro, irrito-me, amo, desabafo, sinto falta, saudades como qualquer outra pessoa no mundo. Continuo com defeitos e quem estuda Psicologia não deixa nunca de ser pessoa, eu não fico indiferente ao sofrimento do outro antes pelo contrário, aprendi a dar tudo de mim para ajudar e o meu objectivo de vida é tornar-me melhor pessoa a cada dia que passa.
Acredito na mudança e acredito que podemos mudar o mundo no presente, para termos um futuro melhor e um dia olharmos todo este passado como algo único!


 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Uma Hora demasiado longa

Nevoeiro



    
    É hora de mudarmos uma cultura há muito assente em conquistas passadas. De destronar a hipocrisia que reina. De fazer o que deve ser deveras feito. De perceber que nós é que estamos errados.
    É hora de ser Portugal muito antes da chegada do nevoeiro, quando o sol das expectativas e do trabalho para as exceder acontecia por cima das nossas cabeças.
    E tu, português, não achas que é hora?

 

sábado, 13 de outubro de 2012

Quanto tempo dura o passado?

    Uma das minhas disciplinas preferidas só a descobri no 12º ano, Psicologia, que trata da compreensão(logos) que temos sobre a nossa "alma"(psyché). Corrija-me se cometo algum erro, senhora estudante universitária de Psicologia.
    Foi um ano de pura descoberta de mim mesmo, naqueles 90 minutos bi-semanários tudo começava a encaixar como peças de um puzzle que nos completa e aprisiona.
    Lembro-me a certa altura de ler Santo Agostinho, que com palavras e frases quase sem sentido foi cravando na minha mente certas ideias que por vezes me saltam à cabeça como se estivessem "organizadas por gavetas no meu cérebro". Lê-mos Sto. Agostinho a falar da nossa memória que é a capacidade de relembrar experiências vividas anteriormente, num tempo posterior. 
    A memória só nos trás o passado.
    O passado é o que já passou, o que já passei. 
    Mas pergunto-me quanto tempo dura o passado? Como tenho a mania que me respondo, e que a primeira ideia que tenho se enclausura na minha cabeça e não sai... Será que o passado tem apenas o tempo de uma memória? E sendo esta apenas sinapses e conexões cerebrais que acontecem em micro-segundos, não será este o tempo do passado?
    Quando eu penso no passado, não passa de memória de um tempo que agora se resume à minha cabeça. Eu resumo todo o meu passado em memórias, em pouco tempo... todo o passado é efémero... assim como o presente, que acabou e agora já é passado... já é memória! 


    Que venha mais futuro, que se transforma em presente, e se encerra num passado supersónico.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Talvez...


Talvez tenhas aparecido mas desaparecido num ápice.
Talvez te tenhas quebrado e te transformado em pó, agora mesmo, agora neste preciso momento em que escrevo. E talvez tenha entrado nesta janela um vento fortíssimo que me tenha impedido de escrever por momentos, para levar as tuas cinzas derramadas nas minhas lágrimas.
 
Talvez este seja o vento do meu anjo da guarda,
que me levou todo o sofrimento agora mesmo,
que fechou a janela ao sair, depois de me ter secado,
todas as lágrimas caídas dos meus olhos infinitos. 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

É isto que eu quero

    Eu quero gritar até à estratosfera tudo o que eu quero! E o que eu quero é um simples que vira complicado.
    Quero saber tomar as decisões certas para mim e para os outros, mesmo que por vezes elas não existam, porque deveria existir sempre um caminho alternativo à dor. Quero poder resolver problemas pelo simples facto de querer, mas enganaram-me e querer já não é poder.
    Quero um dia longe dos meus pensamentos, das minhas poucas preocupações. Onde não tenho de pensar em mim, e visto que eu sou um pouco de todos os que me rodeiam, sem ter de pensar em ti e em todos... Apenas quero viver encharcado, por exemplo, na filosofia de vida de Alberto Caeiro, que nem sequer assenta em filosofias, para sentir-me a mim o mais íntimo possível. Conhecer-me quando não tenho de conhecer outras coisas, quando aceito tudo e sei que tudo me aceita como quero ser, como sou, como estou naquele preciso e eterno momento.
    Na minha cabeça tudo isto faz sentido, e por momentos apetece-me fugir e ficar isolado de telemóveis, televisões, tecnologias, informações, diálogos... só quero dialogar com uma folha de papel e uma caneta onde apenas eu distingo os meus "a's" dos meus "o's", não sendo julgado pela forma idêntica com que aparecem aos olhos de outra pessoa.


  É isto que eu quero. Eu quero tudo o que não tenho... Mas como tenho tudo, eu quero o nada, e não quero sentir-me mal agradecido por o querer.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Despedida numa Esplanada

 
            Eu vou explicar-te tudo. Eu vou. Mas não sei por onde começar. Sabes, um dia morrerei e não vou ser, nunca, capaz de te dizer estas palavras que tento agora dizer-te. Por isso, quero explicar-te tudo e não adiar mais. Sabes, eu vou morrer. Eu sei que também morrerás, e um dia, todas as pessoas que estão à nossa volta, nesta esplanada, também morrerão, porque existem e porque são vida. No entanto, há uma diferença. Uma diferença que provavelmente separa temporalmente a minha morte da maioria das pessoas que estão aqui. Eu não vou fazer exames. Eu não vou nunca, conseguir ficar curado desta doença que me destrói aos poucos, antes de matar de vez. Eu não vou lutar por esta doença porque já não tenho mais forças e não consigo mais. Estou cansado. Perdoa-me! Eu tentei, a sério que tentei, mas não vou lutar mais pela minha vida, nem quebrar o que diz a medicina.
 
          Ainda tenho uma coisa para te dizer, antes de partir. Sabes, esse vestido branco fica-te mesmo muito bem. Sim, eu sei que já te vi muitas vezes com ele vestido. Mas, os meus olhos nunca te viram com tanta meditação como hoje. Quero que sejas feliz e que relembres este momento, que é o nosso verdadeiro momento. Este momento que nos separa e que me destrói. Nunca chores por nada do que fomos... nem chores ao relembrar este encontro. Eu ficarei bem. Sabes, eu amo-te... Até amanhã! 
Desenho de Fly.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Liberdade

    Será que somos livres?
    Sinto-me preso, aprisionado com todos vocês, cada um na sua minúscula cela perpétua. E a maior parte aí ficará, comendo e bebendo aquilo que recebem de fora, e dormindo sem nunca sonharem sair dessa rotina enclausurada. Tenho pena, mesmo que também eu esteja condenado a essa liberdade sempre, mas sempre condicional.
    Por onde quer que olhe, só me atropelam regras e leis. Cada uma mais restringente que a anterior, remetendo-se umas para as outras, criando uma teia, que tal e qual as de uma aranha, servem para nos aprisionar e, mais tarde, decidirem o nosso destino. Ou fado, como quiserem chamar, mas isso não nos trás liberdade...
    Pasmem-se, se conseguirem, quando digo que existem formas de escapar a essa prisão, que nos parece tão sólida. Nascemos com ferramentas para lhe resistir, mas conforme crescemos vão-se-nos sendo tiradas do nosso poder, ficando só pele, osso e obediência. Essas ferramentas eu vejo-as, rodeando e recheando crianças inocentes que mais tarde as vão doar ao esquecimento. São poucos os que com elas ficam, mas os que ficam, criam e encantam, erram e experimentam, vivem e libertam-se dessas regras, nunca de todas... Aquelas as quais a Imaginação permite escapar, essa que é a maior e mais especial ferramenta que alguma vez possuímos... E a que todos deixamos ir, com a falsa promessa de que as regras bastam para um falso conforto, que nunca chega... E continuamos prisioneiros, a vê-los livres do lado de fora.
   


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Marinheiro sonhador

    Ele intitula-se de "marinheiro dos sentimentos", tem o coração como mar e o cérebro como tempestade. Todos os dia se lança às águas sem saber como as navegar, sem saber o que vai usar como leme, e perigosamente ignorando se o seu barco resiste ás tempestades longas e teimosas. Diz que se não sair nao vive, não é marinheiro, porque viver é tomar riscos, enfrentá-los e ganhá-los.
    Não tem porto habitual, nenhum serve para a sua, a seus olhos, grandiosa embarcação, que não passa de uma lata flutuante, quase desafiando algumas leis da física.
    Sonha com águas mansas e profundas, com azuis e verdes que o façam perder horas a pousar os seus olhos onde tais cores se misturam. Tirando desse precioso líquido, indispensável à vida, alimento para a alma e para o corpo, que sempre se subjugará a desejos carnais. É esse o sonho, e o sonho move a vida, ele apenas vive para sonhar, e sonha para viver.
    E quando sentir essas águas a correrem lentamente à sua volta, pergunto-me se não viverá mais. Se a sua vida acaba, ou se o sonho morre. Se a lata não volta a navegar e a viver tormentos impiedosos que com a esperança do sonho não passam de meros obstáculos ultrapassáveis. Pergunto-me se sonhar não se torna por si só num perigo, apenas pela possibilidade de se obter na realidade o sonho.
    Não é preocupação para a sua cabeça sempre coberta de água e sal, e continua, casmurro, enfrentando o mar com a ignorância que trás sobre a orientação do norte e do sul... apenas vive e sonha.


vive o sonho, sê marinheiro(a).

domingo, 9 de setembro de 2012

Quando somos os únicos a sonhar…


          Esta noite tive uma multidão de sonhos. Saí para a rua. Precisava de um sinal e por isso saí para a rua depois de enfiar no meu corpo um vestido branco e de ter lavado a cara em frente ao espelho, pensando sempre nos sonhos. Saí para a rua e nela também estava uma multidão. Pessoas, muitas pessoas mas a multidão era mais do que isso.

       Precisei de sair para a rua inundada de sonhos para perceber uma outra realidade. Entre os meus sonhos e aquela rua cheia de uma multidão, havia assassinos, havia ladrões e havia violadores que todos esperam ver no outro lado do mundo. Naquela rua havia pessoas que apontam as falhas dos vizinhos mas que também as têm, havia pessoas que levam uma vida inteira a invejar outras, havia filhos deixados esquecidos em creches, adolescentes a drogarem-se e a beberem sem um amanhã, homens e mulheres a traírem-se mutuamente, havia idosos abandonados, alguns mortos e esquecidos. Naquela rua havia muitos segredos, muitos mitos, muita corrupção, muitas palavras que não se diziam por não ficar bem e que por isso eram recalcadas e supostamente esquecidas. Naquela rua havia quem simplesmente não tivesse sonhos.

         Precisei de crescer durante anos para me aperceber de alguma cegueira que tinha acerca do mundo e que penso ainda não me estar curada na totalidade. Naquela rua e naquele dia cansei-me de ver existir uma multidão sem sonhos e de ver a existência dos meus sonhos serem uma multidão. Voltei para casa com o vestido preto e naquele dia não quis sair mais à rua.




       'Os sonhos só são sonhos porque os sonhamos', por isso voltei a sair à rua no dia seguinte na expectativa de que o mundo estivesse diferente, como eu. 


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Quem nos magoa, ensina

  



Hoje compreendo tudo o que não compreendia há anos atrás por ser criança. Hoje compreendo porque não me abraçavas com a mesma vontade. Compreendo porque não ficavas comigo, ver-me adormecer ou ficavas a meu lado quando estava doente. Sei que preferias ver notícias repetidas do que te sentares comigo no chão da sala para brincarmos sempre com coisas diferentes. Sei que não ouvias metade do que te dizia ou do que te tentava dizer, por estares atento a algo mais importante para ti. Hoje sei que preferias trocar-me por um baralho de cartas e uns tantos cigarros. Sei que preferias isso, mesmo que eu desafiasse a perfeição.

Um dia compreendi que podia até ser a melhor do mundo em tudo e mais alguma coisa mas que isso não é a razão para que nos amem porque eu sabia amar-te. Hoje sei o valor do amor, de um abraço, de um olhar porque um dia me ensinaste o valor do desprezo, da troca, da rejeição. Aprendi a colocar de lado as perfeições que idealizava, aprendi que nunca prenderei ninguém e quem entrou tem todo o espaço para sair das nossas vidas. Não existo nem nasci para segundas opções na vida de ninguém.
Nunca saberás mais nada sobre a minha pele porque eu só perdo-o erros humanos. Sem ti obtive diploma de perfeição a muitos olhos mas também já fracassei tantas vezes, falhei tantas vezes e chorei tantas vezes. Sem ti já corri muito longe para não ter que ver mais ninguém no mundo mas percebi que não valia a pena. Tudo, sem ti. Hoje sei o que talvez demores anos e anos a tentar aprender e talvez morras mesmo sem saber nada.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Os deuses são deuses, porque não se pensam"


“Os deuses são deuses
Porque não se pensam.”
- escreveu Fernando Pessoa.

  O mundo gira na cabeça de cada um de nós, somos ziliões de peças num puzzle que, no final, mostra uma imagem quase perfeita. Imagem que aconteceu por acaso, apenas porque não foi pensada. Foi criação de um autor desprovido de capacidade mental. Autor esse que assina por Natureza.
  E as hipóteses de tal acontecer? Nada falhou. Tudo tem um propósito. Tudo! E afinal nada foi pensado.
  E eu? Que propósito tenho? E tu? Nós só desconhece-mos esse propósito, o tal “sentido da vida” porque pensamos nele, se não o racionaliza-se-mos ele aparecia claro, transparente aos nossos olhos.
  Eu penso que sou alto, e depois vejo-me a olhar para cima para falar com alguém ainda mais alto, e torno-me pequeno. Eu penso que sou um atleta normal, e de repente, dou por mim a vencer uma prova. Depois eu penso que sou bom atleta, vem alguém e fica á minha frente na chegada. Então eu penso que não devia pensar, para ser perfeito... E depois, adormeço com pensamentos destes... na noite (im)pensativa.
  Ninguém pensou a noite, ninguém arquitectou o dia. Ninguém criou a morte. Mas todos pensamos na vida. Eis a razão de não sermos perfeitos.


"Uma Casa na Escuridão" de José Luís Peixoto


          José Luís Peixoto consegue descrever ao mais ínfimo pormenor, os olhares, as expressões, os gestos, a voz, a música, os sons, as imagens e os episódios de uma forma excecional como se a vivenciássemos.

            Uma casa cinzenta repleta de gatos de todas as cores, um escritor apaixonado de amor por alguém que vive nele, comunicando-se através da escrita. É noite, o seu braço direito treme, sentado à escrivaninha, descreve-a com uma paixão ardente onde ela, a seus olhos, é a mulher mais bonita do mundo. Uma mãe desligada do mundo. Um pai que matara a sua amada, a escrava madalena, com um machado na face, conduzindo-a também para a morte. A impossibilidade de um príncipe com um vazio no lugar do coração de viver um amor com a escrava miriam.
            O surgimento das invasões na cidade, as amputações, a destruição dos corpos e sua aniquilação. Sangue, sofrimento, escuridão, dor, o medo muito perto do terror, a destruição dos sonhos, a morte. Ao escritor, os braços amputados, a fonte de sustento daquela que estava dentro dele. À mãe, a audição arruinada para que não entendesse a música. Ao violinista a perda das mãos. A escrava miriam violada. Um ninguém sem nada.
            Os dias custam a passar, a morte apesar de desejada é lenta. A (im)possibilidade do amor e dos sonhos, e ainda assim um final encantador.  



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

"Estranha Fruta"

"Strange Fruit" por Abel Meeropol

«Árvores do Sul pendurando um fruto estranho,
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Corpos pretos a balançar na brisa do Sul,
Fruto estranho pendurado nos álamos.

Cena pastoral do Sul galante,
Os olhos esbugalhados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, limpo e fresco,
E subitamente o cheiro a carne queimada!

Aqui está fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as folhas tombarem,
Aqui está uma cultura estranha e amarga.»

Versão cantada por Nina Simone
Original por Billie Holiday

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Discurso de um Esquizofrénico


Desconheço o limite do meu corpo relativamente ao mundo. Eu habito num corpo que não é sentido por mim, nem sequer me reconheço nele. Estou sentado, a escrever e tudo o que vejo é este teclado a escrever palavras que me ocorrem na cabeça e a aparecerem num ecrã. São umas mãos que o escrevem, eu apenas as vejo escrever muito rapidamente e sobre ditadura daquilo que quero e penso. Roubam-me o pensamento, as ideias e o que é absolutamente meu e perseguem-me em fugas que sou obrigado a fazer num corpo em que vivo para me manter vivo lá dentro. Hoje decidi continuar aqui sentado mesmo que oiça umas tantas vozes e sons de pássaros a voar debaixo da terra que piso, mesmo que os consiga ver a pedirem-me para que voe com eles. Hoje chega, sinto-me cansado de fugir do mundo que não compreende o que sinto e que ainda me pretende catalogar num livro de transtornos mentais. Vivo os meus dias num corpo perseguido e atento a olhares que se mexem e a dedos que me apontam. Preferia que o mundo se transformasse em fumo e que fossemos apenas isso. Fumo e nada mais do que isso, sem olhares, sem sons, sem criticas, sem dedos que apontam. Fumo que nasce do outro lado do mundo que dá a volta até aqui chegar e que o derrete. Agora sim, vejo o mundo como quero, eu não o vejo e ninguém o vê. 

Fumo e nada mais do que isso.


segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Um Século e Picos Depois

  Faz algum tempo que me foi aconselhado um livro magnifico para ler e despertar a mente, e quem sabe, o poeta que mora na cave do meu ser. Deram-lhe um nome, como se dá a todas as coisas, de "Cartas a Um Jovem Poeta". Dentro dele existem dez cartas escritas por Rainer Maria Rilke em jeito de resposta a um jovem poeta que encontrava neste escritor um amigo que o podia aconselhar.
  A certa altura na Carta Sétima, escrita em Roma a 14, de Maio de 1904, lê-se:

"(...)muitos jovens que amam erradamente, isto é, entregando-se simplesmente(..)" 
 ...

  Eu sou jovem, eu amo erradamente(ou nao se chama amar a isto), e entrego-me simplesmente. Já passaram 108 anos e este homem sabe tanto sobre a juventude de um século diferente, de um milénio diferente. Nada mudou.
  Sempre que leio isto, lembro-me de amigos e amigas, juntos, ou já separados, que erradamente estão ou estiveram, que simplesmente se tocam ou se tocaram fisicamente.
  Eu hoje acho que mudei, não me apetece tocar só, fingir que amo... Não quero! Se para isso tiver de deixar de ser "juventude" então que seja. Mas adulto também não sou, não quero problemas nem grandes responsabilidades que nem eu me encarreguei de as ter. Mais uma vez, não sei o que sou. Mas sinto que sou algo, só ainda não sei, nem ninguém sabe, o quê. É, talvez, a única coisa a que ainda não deram um nome.


 

domingo, 19 de agosto de 2012

O erro de Descartes

Sinto logo existo

Sinto frio, sim...
Sinto tanto.
Sinto a fome em mim
E o calor do meu manto.

Vivo porque sinto
Não porque penso.
Quando penso, minto.
Quando sinto, é imenso...

E dói a dor de ser só
Que me enche o corpo em danças,
Esquecendo-me do pó
Que me sufoca as barbas brancas.

Sou ninguém. Não sou.
E ainda assim tenho sentimento,
Que o vento ainda não levou...
Peço-o a todo o momento.

Sem teto aqui fico
Arrastado ás marés...
Mas meu neto... meu filho...
Nunca de esqueças do que és!

És como eu...

segunda-feira, 30 de julho de 2012

a Fénix.

Dizem nascer das cinzas,
Parece coisa de mágico!
Dizem-na bela por vias
Do seu encanto trágico.
 
Há-de sempre existir
Guardada na minha realidade.
Pois a cada dia hei-de sentir
Que amar é novidade!
 
E tu, que-não-sei-quem,
Sentirás o fogo que tanto temias,
Quando eu for teu rei,
E te coroar rainha, todos os dias.
 
Só espero que me encontres
Vinda das cinzas onde te escondes...
 
 



sexta-feira, 27 de julho de 2012

Tudo perfeito...

Naquela casa tudo era perfeito. A entrada, a mobília, a cor. Naquela casa, o pó não chegava a pousar em nada material do que existia. As prisioneiras tratavam de limpar tudo e de seguir as ordens da senhora que se sentava imóvel numa poltrona. Tudo o que a senhora pedia as prisioneiras faziam sem se questionarem. Se todas aquelas paredes falassem havia muito pouco para contar, as janelas eram meticulosamente abertas todas as manhãs e meticulosamente fechadas todas as noites. Todos os dias eram iguais sempre com a mesma rotina e sempre com a mesma perfeição. As falas eram raras, os olhares os mesmos, o silêncio era semelhante a todos os outros dias. Todas as almas daquela casa perdiam-se no tempo e o tempo era demorado demais para ser real. No entanto, tudo era perfeito: a senhora, o luxo, a solidão e o seu vazio interior. Quando morreu o funeral também foi perfeito, as carpideiras eram perfeitas, as prisioneiras eram perfeitas, o padre era perfeito as flores e a terra eram perfeitas. Mas com o tempo, as flores murcharam, a carne apodreceu e ela transformou-se em terra como todas as outras pessoas do mundo e ainda foi esquecida...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Silêncio

"Escuta e serás sábio. O começo da sabedoria é o silêncio." - Pitágoras

  A noite cai escura com um silencio tangencial. Espero que me traga respostas. Mas primeiro tenho de saber as perguntas que farei. E não sei que perguntar. Então calo-me e os silêncios falam. Num dialogo sem sons que possamos ouvir, argumentam sem tirarem a verdade do outro. Coisa humanamente impossível. Será que fiquei mais sábio por assistir à conversa, que não existiu? Ou perdi-me a adornar um texto que nem está escrito como de costume? É maneira de um escritor que muito vivi por letras. Sou um pouco de tudo, silencio, sabedoria(pouca) e dos outros. Do mundo. Do meu mundo.