Naquela casa tudo era perfeito. A entrada, a mobília, a cor.
Naquela casa, o pó não chegava a pousar em nada material do que existia. As prisioneiras
tratavam de limpar tudo e de seguir as ordens da senhora que se sentava imóvel
numa poltrona. Tudo o que a senhora pedia as prisioneiras faziam sem se
questionarem. Se todas aquelas paredes falassem havia muito pouco para contar,
as janelas eram meticulosamente abertas todas as manhãs e meticulosamente
fechadas todas as noites. Todos os dias eram iguais sempre com a mesma rotina e
sempre com a mesma perfeição. As falas eram raras, os olhares os mesmos, o silêncio
era semelhante a todos os outros dias. Todas as almas daquela casa perdiam-se
no tempo e o tempo era demorado demais para ser real. No entanto, tudo era
perfeito: a senhora, o luxo, a solidão e o seu vazio interior. Quando morreu o
funeral também foi perfeito, as carpideiras eram perfeitas, as prisioneiras eram
perfeitas, o padre era perfeito as flores e a terra eram perfeitas. Mas com o
tempo, as flores murcharam, a carne apodreceu e ela transformou-se em terra
como todas as outras pessoas do mundo e ainda foi esquecida...
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