Desconheço o
limite do meu corpo relativamente ao mundo. Eu habito num corpo que não é
sentido por mim, nem sequer me reconheço nele. Estou sentado, a escrever e tudo
o que vejo é este teclado a escrever palavras que me ocorrem na cabeça e a
aparecerem num ecrã. São umas mãos que o escrevem, eu apenas as vejo escrever
muito rapidamente e sobre ditadura daquilo que quero e penso. Roubam-me o
pensamento, as ideias e o que é absolutamente meu e perseguem-me em fugas que
sou obrigado a fazer num corpo em que vivo para me manter vivo lá dentro. Hoje
decidi continuar aqui sentado mesmo que oiça umas tantas vozes e sons de
pássaros a voar debaixo da terra que piso, mesmo que os consiga ver a
pedirem-me para que voe com eles. Hoje chega, sinto-me cansado de fugir do
mundo que não compreende o que sinto e que ainda me pretende catalogar num
livro de transtornos mentais. Vivo os meus dias num corpo perseguido e atento a
olhares que se mexem e a dedos que me apontam. Preferia que o mundo se transformasse
em fumo e que fossemos apenas isso. Fumo e nada mais do que isso, sem olhares,
sem sons, sem criticas, sem dedos que apontam. Fumo que nasce do outro lado do
mundo que dá a volta até aqui chegar e que o derrete. Agora sim, vejo o mundo
como quero, eu não o vejo e ninguém o vê.
Fumo e nada mais do que isso.
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