José Luís Peixoto consegue descrever ao mais ínfimo pormenor,
os olhares, as expressões, os gestos, a voz, a música, os sons, as imagens e os
episódios de uma forma excecional como se a vivenciássemos.
Uma casa
cinzenta repleta de gatos de todas as cores, um escritor apaixonado de amor por
alguém que vive nele, comunicando-se através da escrita. É noite, o seu
braço direito treme, sentado à escrivaninha, descreve-a com uma paixão ardente
onde ela, a seus olhos, é a mulher mais bonita do mundo. Uma mãe desligada do
mundo. Um pai que matara a sua amada, a escrava madalena, com um machado na face,
conduzindo-a também para a morte. A impossibilidade de um príncipe com um vazio
no lugar do coração de viver um amor com a escrava miriam.
O surgimento
das invasões na cidade, as amputações, a destruição dos corpos e sua
aniquilação. Sangue, sofrimento, escuridão, dor, o medo muito perto do terror, a
destruição dos sonhos, a morte. Ao escritor, os braços amputados, a fonte de
sustento daquela que estava dentro dele. À mãe, a audição arruinada para que não
entendesse a música. Ao violinista a perda das mãos. A escrava miriam violada.
Um ninguém sem nada.
Os dias custam
a passar, a morte apesar de desejada é lenta. A (im)possibilidade do amor e dos
sonhos, e ainda assim um final encantador.
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