Se passar uma gaivota
Lisboa não a nota
De cabisbaixo onde o fado
Está mais triste que no passado.
Oh mar injusto,
Não te bastava dar?
Tiras-te a todo o custo
O poder de sonhar.
Trouxeste o preto contigo
E espalhaste-o na cidade
E como se não chegasse
Cegaste o amor, bandido.
Inundaste o fado
Criaste a doença
Neste povo cansado,
Desolado, sem crença.
Agora só vê o azul infinito
Refletido no mar.
Como se tivesse perdido
A capacidade de se levantar.
Ergue-te!
Está mais que na hora!
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Ser poeta
Um poeta Escuta-se, E profeta Cura-se!
É doença Infinita. É crença Na perdida.
Desejo Imprudente, De beijo Absorvente.
Metamorfismo Impossível: Ser abismo, Ser incrível.
Preferir O nada, Sentir Cada.
É ser Inexistente. Simbionte De gente.
Parasita, Que recita, Chora e Vai embora.
Sombra Da verdade Sem corpo, Sem vontade.
Nevoeiro
É preciso afugentar todo este nevoeiro que sobre nós paira. Mais não somos descendência de antepassados corajosos e sôfregos que pintaram o azul do mar pela primeira vez. Deitados apodrecemos na encosta da História daquilo que fomos, que verbalizamos com medo de a termos de escrever de novo. E temos, só que sufocamos neste nevoeiro, neste fumo de nossa criação.
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer --
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
poema de Fernando Pessoa
pintura de René Magritte
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Ambiguidade
Preferia não me lembrar que um
dia me rasgaste a pele, quebraste o meu mundo num silêncio que se ouvia a
polegadas de distância e numa dor incompreendida que era só minha. Por mim,
apagava-te da minha memória e mudava-te para o outro lado do universo, sem
haver uma única possibilidade de te reencontrar. Preferia que tivéssemos
existido em épocas diferentes, em séculos distantes para não haver a possibilidade
de nos cruzarmos nesta vida, se isso fosse possível. Preferia que a distância e
o tempo fossem a maior realidade que alguma vez existiu entre nós. Sem algum
dia te ter sorrido, confiado, acreditado, sentido. Preferia não saber se te
arrependes ou não, se pensas, se respiras, se existes. Se vemos nos outros
aquilo que nós próprios somos, então em ti, eu vi o pior de mim.
sábado, 30 de março de 2013
"Loucriar"
Criador por excelência
Cria dor sem precedência,
Amor sem conveniência
Desigual a quem só é vivência.
Quem cria não vive só,
Repleto de rebentos loucos
Imagina dinheiro em pó
Fiquem outros com os louros.
Serve só o prémio máximo
De plantar vida em algo
Ínfimo.
Sem nunca atingir o alvo.
É ver o invisível,
Sentir o inatingível,
Voar dentro da terra,
Sussurrar como quem berra.
Proprietário da sua loucura
Sem responsabilidade,
Por ser escravo da lua
E da sua vontade.
Não tem idade
Nem conta os anos,
Como quem espera sentado
Que estes lhe infrinjam danos.
Revira as regras do jogo
E cria novas, como devem ser.
Afoga-se no fogo
De quem arde sem se ver.
Coisas simples onde se motiva,
Quem cria, vê a magia que não vês.
Que o faz aproveitar a vida
Um dia de cada vez.
Cria dor sem precedência,
Amor sem conveniência
Desigual a quem só é vivência.
Quem cria não vive só,
Repleto de rebentos loucos
Imagina dinheiro em pó
Fiquem outros com os louros.
Serve só o prémio máximo
pintura de Magritte |
Ínfimo.
Sem nunca atingir o alvo.
É ver o invisível,
Sentir o inatingível,
Voar dentro da terra,
Sussurrar como quem berra.
Proprietário da sua loucura
Sem responsabilidade,
Por ser escravo da lua
E da sua vontade.
Não tem idade
Nem conta os anos,
Como quem espera sentado
Que estes lhe infrinjam danos.
Revira as regras do jogo
E cria novas, como devem ser.
Afoga-se no fogo
De quem arde sem se ver.
Coisas simples onde se motiva,
Quem cria, vê a magia que não vês.
Que o faz aproveitar a vida
Um dia de cada vez.
domingo, 17 de março de 2013
Sem tempo para Sonhar
A minha alma chora desalmada.
Sentimentos que a razão perde no nada.
E que eu preferia que se perdessem na mente.
Mas jorra-me para o corpo como uma cascata.
Simples água, diria Gedeão, e sal.
Redefinidos numa errata
Porque nada é mais do que tal.
Quebra-se em mim o silêncio, e assim me calo.
Revolta muda, que me muda e emudece.
O mundo verdadeiro cresce,
Enquanto eu me resumo, não falo.
Não me atrevo a adjectivar o quer que seja, do que restou.
Nada tem subjectividade!
Quando essa alegria que me alvejou,
Se fechou em tão tenra idade.
Assumo-me triste, certo
De que nada é certeiro.
Apenas que longe te senti perto,
E tudo era verdadeiro.
sexta-feira, 15 de março de 2013
Arminda
Sinceramente não esperava encontra-la naquele dia sozinha.
Esperava encontrar a mesma vulnerabilidade, o mesmo esquecimento a mesma
ignorância de todos os dias do mundo. Sentada a tremer de frio, ela
aproximou-se de mim e não me lembro ao certo como começámos aquela estranha
conversa. Deparei-me com a curiosidade da vida quando ainda eu tinha tantos
anos pela frente e ela com toda a sabedoria do mundo quando já não lhe restavam
muitos anos. Duas mulheres de gerações diferentes a sentir o mesmo frio na pele,
o mesmo tempo. Disse-me que tinha pena dos jovens porque sabia o que era viver,
disse-me que o frio nos tornava fortes, disse-me para não dar importância aos
homens. Falou-me da vida, falou-me do mundo.
Ela soube e tinha certezas de tudo o que me disse, tinha
visto a luz deste mundo em Dezembro de 1915 e era uma mulher linda. Uma mulher quase anjo, que para o
ser só lhe faltou as asas naquele momento. Benzeu-me, abraçou-me e disse-me “Nunca
mais te esqueças de mim”.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Poetas
"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".- Lei de Lavoisier
A poesia foi me apresentada, como provavelmente a vocês, na escola sob forma de textos antigos, escritos com um português que, e ainda por cima com o novo desacordo ortográfico, tinha apontamentos muito diferentes deste que agora apalavramos. Todos esses textos, escritos como se fossem prédios, mas construidos de cima para baixo ignorando todas as lógicas da razão(hoje percebo porquê), tinham algo em comum: tinham sido escritos noutro século, noutra época. Poucos eram os autores que podia ouvir a declamar a sua obra, de voz viva.
Viveríamos sempre com textos séculos e séculos cada vez mais longínquos, a ensinar em Língua Portuguesa um português que nunca falámos nem ouvimos. Com textos poeirentos, pensamentos antigos por mais evoluídos que fossem, e entendimentos que eu nunca consegui perceber como podiam ser tão objectivos e alvos de tanta correcção por parte dos meus professores. Poemas não têm um só entendimento, depende do que passaram os olhos de quem os lê!(nunca me entenderam nisso).
Essa magia que me enchia de prazer quando decifrava o que, para mim, tal construção de palavras representava no canto dos sentimentos, não se perdeu... reinventou-se.
Eu agora oiço poesia, quase não a leio, sinto-a a entrar no meu corpo e vou a descobrindo sempre que oiço de novo, com novos sentidos na minha cabeça, e novas sensações no meu coração. Os poetas que a escrevem acrescentaram-lhe um ritmo contemporâneo, acrescentaram novas construções verbais.
Sempre conscientes de que são parte desses textos eruditos, um poeta nunca esquece de onde vem nem de onde vem a sua poesia.
É incrível o liricísmo que por hoje corre nestas rua, em phones, em rádios de carros, em computadores, em trechos que ficaram presos repetidamente na cabeça de outro apaixonado lunático.
Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde ficariam orgulhosos por saber que aquilo que faziam, ainda que de outra forma, ganhou uma nova vida e não se perdeu no esquecimento de um velho livro numa velha biblioteca. Tal como um pai se orgulha de um filho que ganhou saber-viver depois de ter aprendido consigo.
Contemporâneo
Royalistick
A vida segue, embala
Numa voz que acalma,
Num sussurro de esperança
Que te cansa
E que te cala.
E avança, não para.
Não espera, nao fala.
Não dá sentido a nada
E tu não consegues chamá-la.
A poesia foi me apresentada, como provavelmente a vocês, na escola sob forma de textos antigos, escritos com um português que, e ainda por cima com o novo desacordo ortográfico, tinha apontamentos muito diferentes deste que agora apalavramos. Todos esses textos, escritos como se fossem prédios, mas construidos de cima para baixo ignorando todas as lógicas da razão(hoje percebo porquê), tinham algo em comum: tinham sido escritos noutro século, noutra época. Poucos eram os autores que podia ouvir a declamar a sua obra, de voz viva.
Viveríamos sempre com textos séculos e séculos cada vez mais longínquos, a ensinar em Língua Portuguesa um português que nunca falámos nem ouvimos. Com textos poeirentos, pensamentos antigos por mais evoluídos que fossem, e entendimentos que eu nunca consegui perceber como podiam ser tão objectivos e alvos de tanta correcção por parte dos meus professores. Poemas não têm um só entendimento, depende do que passaram os olhos de quem os lê!(nunca me entenderam nisso).
Essa magia que me enchia de prazer quando decifrava o que, para mim, tal construção de palavras representava no canto dos sentimentos, não se perdeu... reinventou-se.
Eu agora oiço poesia, quase não a leio, sinto-a a entrar no meu corpo e vou a descobrindo sempre que oiço de novo, com novos sentidos na minha cabeça, e novas sensações no meu coração. Os poetas que a escrevem acrescentaram-lhe um ritmo contemporâneo, acrescentaram novas construções verbais.
Sempre conscientes de que são parte desses textos eruditos, um poeta nunca esquece de onde vem nem de onde vem a sua poesia.
É incrível o liricísmo que por hoje corre nestas rua, em phones, em rádios de carros, em computadores, em trechos que ficaram presos repetidamente na cabeça de outro apaixonado lunático.
Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde ficariam orgulhosos por saber que aquilo que faziam, ainda que de outra forma, ganhou uma nova vida e não se perdeu no esquecimento de um velho livro numa velha biblioteca. Tal como um pai se orgulha de um filho que ganhou saber-viver depois de ter aprendido consigo.
Contemporâneo
Royalistick
A vida segue, embala
Numa voz que acalma,
Num sussurro de esperança
Que te cansa
E que te cala.
E avança, não para.
Não espera, nao fala.
Não dá sentido a nada
E tu não consegues chamá-la.
sábado, 26 de janeiro de 2013
Isolado
Volta para trás que eu acorrento este monstro e sigo-te, para onde quer que vás.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Senti(do)
Hoje faz-me sentido tudo. Agora faz-me sentido ter saído de
casa e correr sem destino. Faz-me sentido ter passado por tanta gente, ter
visto e sentido tantas coisas. Faz-me sentido ter descido uma escadaria enorme
em direcção à praia e não saber ao certo como tinha chegado ali. Contemplar o
horizonte com um olhar concomitante, ouvir o som do mar a tentar verbalizar,
sentir o paladar de sal e energia, sentir o ar fresco na pele e a água a
tocar-me nos pés e a subir lentamente. Continuar a correr pela praia fora,
querer que o momento e o mundo mude e que não haja mais nada para além da felicidade.
Hoje e neste momento tudo me faz sentido. Faz-me sentido ver-te agora e que te aproximes a correr também. Parámos ambos por momentos, e ambos
sabíamos que fazia sentido termos parado fixamente e cruzado olhares de anos
apesar de nos vermos pela primeira vez. Ambos falávamos línguas diferentes mas
naquele momento as nossas línguas foram um idioma só, no qual não precisávamos
de dizer nada para saber tudo. Seguimos caminhos diferentes sem saber quando nos voltaríamos a ver porque hoje faz sentido sentir que nos vamos voltar a ver um dia.
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