sexta-feira, 28 de setembro de 2012

É isto que eu quero

    Eu quero gritar até à estratosfera tudo o que eu quero! E o que eu quero é um simples que vira complicado.
    Quero saber tomar as decisões certas para mim e para os outros, mesmo que por vezes elas não existam, porque deveria existir sempre um caminho alternativo à dor. Quero poder resolver problemas pelo simples facto de querer, mas enganaram-me e querer já não é poder.
    Quero um dia longe dos meus pensamentos, das minhas poucas preocupações. Onde não tenho de pensar em mim, e visto que eu sou um pouco de todos os que me rodeiam, sem ter de pensar em ti e em todos... Apenas quero viver encharcado, por exemplo, na filosofia de vida de Alberto Caeiro, que nem sequer assenta em filosofias, para sentir-me a mim o mais íntimo possível. Conhecer-me quando não tenho de conhecer outras coisas, quando aceito tudo e sei que tudo me aceita como quero ser, como sou, como estou naquele preciso e eterno momento.
    Na minha cabeça tudo isto faz sentido, e por momentos apetece-me fugir e ficar isolado de telemóveis, televisões, tecnologias, informações, diálogos... só quero dialogar com uma folha de papel e uma caneta onde apenas eu distingo os meus "a's" dos meus "o's", não sendo julgado pela forma idêntica com que aparecem aos olhos de outra pessoa.


  É isto que eu quero. Eu quero tudo o que não tenho... Mas como tenho tudo, eu quero o nada, e não quero sentir-me mal agradecido por o querer.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A Despedida numa Esplanada

 
            Eu vou explicar-te tudo. Eu vou. Mas não sei por onde começar. Sabes, um dia morrerei e não vou ser, nunca, capaz de te dizer estas palavras que tento agora dizer-te. Por isso, quero explicar-te tudo e não adiar mais. Sabes, eu vou morrer. Eu sei que também morrerás, e um dia, todas as pessoas que estão à nossa volta, nesta esplanada, também morrerão, porque existem e porque são vida. No entanto, há uma diferença. Uma diferença que provavelmente separa temporalmente a minha morte da maioria das pessoas que estão aqui. Eu não vou fazer exames. Eu não vou nunca, conseguir ficar curado desta doença que me destrói aos poucos, antes de matar de vez. Eu não vou lutar por esta doença porque já não tenho mais forças e não consigo mais. Estou cansado. Perdoa-me! Eu tentei, a sério que tentei, mas não vou lutar mais pela minha vida, nem quebrar o que diz a medicina.
 
          Ainda tenho uma coisa para te dizer, antes de partir. Sabes, esse vestido branco fica-te mesmo muito bem. Sim, eu sei que já te vi muitas vezes com ele vestido. Mas, os meus olhos nunca te viram com tanta meditação como hoje. Quero que sejas feliz e que relembres este momento, que é o nosso verdadeiro momento. Este momento que nos separa e que me destrói. Nunca chores por nada do que fomos... nem chores ao relembrar este encontro. Eu ficarei bem. Sabes, eu amo-te... Até amanhã! 
Desenho de Fly.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Liberdade

    Será que somos livres?
    Sinto-me preso, aprisionado com todos vocês, cada um na sua minúscula cela perpétua. E a maior parte aí ficará, comendo e bebendo aquilo que recebem de fora, e dormindo sem nunca sonharem sair dessa rotina enclausurada. Tenho pena, mesmo que também eu esteja condenado a essa liberdade sempre, mas sempre condicional.
    Por onde quer que olhe, só me atropelam regras e leis. Cada uma mais restringente que a anterior, remetendo-se umas para as outras, criando uma teia, que tal e qual as de uma aranha, servem para nos aprisionar e, mais tarde, decidirem o nosso destino. Ou fado, como quiserem chamar, mas isso não nos trás liberdade...
    Pasmem-se, se conseguirem, quando digo que existem formas de escapar a essa prisão, que nos parece tão sólida. Nascemos com ferramentas para lhe resistir, mas conforme crescemos vão-se-nos sendo tiradas do nosso poder, ficando só pele, osso e obediência. Essas ferramentas eu vejo-as, rodeando e recheando crianças inocentes que mais tarde as vão doar ao esquecimento. São poucos os que com elas ficam, mas os que ficam, criam e encantam, erram e experimentam, vivem e libertam-se dessas regras, nunca de todas... Aquelas as quais a Imaginação permite escapar, essa que é a maior e mais especial ferramenta que alguma vez possuímos... E a que todos deixamos ir, com a falsa promessa de que as regras bastam para um falso conforto, que nunca chega... E continuamos prisioneiros, a vê-los livres do lado de fora.
   


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Marinheiro sonhador

    Ele intitula-se de "marinheiro dos sentimentos", tem o coração como mar e o cérebro como tempestade. Todos os dia se lança às águas sem saber como as navegar, sem saber o que vai usar como leme, e perigosamente ignorando se o seu barco resiste ás tempestades longas e teimosas. Diz que se não sair nao vive, não é marinheiro, porque viver é tomar riscos, enfrentá-los e ganhá-los.
    Não tem porto habitual, nenhum serve para a sua, a seus olhos, grandiosa embarcação, que não passa de uma lata flutuante, quase desafiando algumas leis da física.
    Sonha com águas mansas e profundas, com azuis e verdes que o façam perder horas a pousar os seus olhos onde tais cores se misturam. Tirando desse precioso líquido, indispensável à vida, alimento para a alma e para o corpo, que sempre se subjugará a desejos carnais. É esse o sonho, e o sonho move a vida, ele apenas vive para sonhar, e sonha para viver.
    E quando sentir essas águas a correrem lentamente à sua volta, pergunto-me se não viverá mais. Se a sua vida acaba, ou se o sonho morre. Se a lata não volta a navegar e a viver tormentos impiedosos que com a esperança do sonho não passam de meros obstáculos ultrapassáveis. Pergunto-me se sonhar não se torna por si só num perigo, apenas pela possibilidade de se obter na realidade o sonho.
    Não é preocupação para a sua cabeça sempre coberta de água e sal, e continua, casmurro, enfrentando o mar com a ignorância que trás sobre a orientação do norte e do sul... apenas vive e sonha.


vive o sonho, sê marinheiro(a).

domingo, 9 de setembro de 2012

Quando somos os únicos a sonhar…


          Esta noite tive uma multidão de sonhos. Saí para a rua. Precisava de um sinal e por isso saí para a rua depois de enfiar no meu corpo um vestido branco e de ter lavado a cara em frente ao espelho, pensando sempre nos sonhos. Saí para a rua e nela também estava uma multidão. Pessoas, muitas pessoas mas a multidão era mais do que isso.

       Precisei de sair para a rua inundada de sonhos para perceber uma outra realidade. Entre os meus sonhos e aquela rua cheia de uma multidão, havia assassinos, havia ladrões e havia violadores que todos esperam ver no outro lado do mundo. Naquela rua havia pessoas que apontam as falhas dos vizinhos mas que também as têm, havia pessoas que levam uma vida inteira a invejar outras, havia filhos deixados esquecidos em creches, adolescentes a drogarem-se e a beberem sem um amanhã, homens e mulheres a traírem-se mutuamente, havia idosos abandonados, alguns mortos e esquecidos. Naquela rua havia muitos segredos, muitos mitos, muita corrupção, muitas palavras que não se diziam por não ficar bem e que por isso eram recalcadas e supostamente esquecidas. Naquela rua havia quem simplesmente não tivesse sonhos.

         Precisei de crescer durante anos para me aperceber de alguma cegueira que tinha acerca do mundo e que penso ainda não me estar curada na totalidade. Naquela rua e naquele dia cansei-me de ver existir uma multidão sem sonhos e de ver a existência dos meus sonhos serem uma multidão. Voltei para casa com o vestido preto e naquele dia não quis sair mais à rua.




       'Os sonhos só são sonhos porque os sonhamos', por isso voltei a sair à rua no dia seguinte na expectativa de que o mundo estivesse diferente, como eu.