sábado, 30 de março de 2013

"Loucriar"

Criador por excelência
Cria dor sem precedência,
Amor sem conveniência
Desigual a quem só é vivência.

Quem cria não vive só,
Repleto de rebentos loucos
Imagina dinheiro em pó
Fiquem outros com os louros.

Serve só o prémio máximo
pintura de Magritte
De plantar vida em algo
Ínfimo.
Sem nunca atingir o alvo.

É ver o invisível,
Sentir o inatingível,
Voar dentro da terra,
Sussurrar como quem berra.

Proprietário da sua loucura
Sem responsabilidade,
Por ser escravo da lua
E da sua vontade.

Não tem idade
Nem conta os anos,
Como quem espera sentado
Que estes lhe infrinjam danos.

Revira as regras do jogo
E cria novas, como devem ser.
Afoga-se no fogo
De quem arde sem se ver.

Coisas simples onde se motiva,
Quem cria, vê a magia que não vês.
Que o faz aproveitar a vida
Um dia de cada vez.

domingo, 17 de março de 2013

Sem tempo para Sonhar



A minha alma chora desalmada.
http://www.thomaslekfeldt.com/story20.html
Inacreditavelmente acredita no que sente,
Sentimentos que a razão perde no nada.
E que eu preferia que se perdessem na mente.

Mas jorra-me para o corpo como uma cascata.
Simples água, diria Gedeão, e sal.
Redefinidos numa errata
Porque nada é mais do que tal.

Quebra-se em mim o silêncio, e assim me calo.
Revolta muda, que me muda e emudece.
O mundo verdadeiro cresce,
Enquanto eu me resumo, não falo.

Não me atrevo a adjectivar o quer que seja, do que restou.
Nada tem subjectividade!
Quando essa alegria que me alvejou,
Se fechou em tão tenra idade.

Assumo-me triste, certo
De que nada é certeiro.
Apenas que longe te senti perto,
E tudo era verdadeiro.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Quantas pernas tem o elefante?


Arminda


Sinceramente não esperava encontra-la naquele dia sozinha. Esperava encontrar a mesma vulnerabilidade, o mesmo esquecimento a mesma ignorância de todos os dias do mundo. Sentada a tremer de frio, ela aproximou-se de mim e não me lembro ao certo como começámos aquela estranha conversa. Deparei-me com a curiosidade da vida quando ainda eu tinha tantos anos pela frente e ela com toda a sabedoria do mundo quando já não lhe restavam muitos anos. Duas mulheres de gerações diferentes a sentir o mesmo frio na pele, o mesmo tempo. Disse-me que tinha pena dos jovens porque sabia o que era viver, disse-me que o frio nos tornava fortes, disse-me para não dar importância aos homens. Falou-me da vida, falou-me do mundo.

Ela soube e tinha certezas de tudo o que me disse, tinha visto a luz deste mundo em Dezembro de 1915 e era uma mulher linda. Uma mulher quase anjo, que para o ser só lhe faltou as asas naquele momento. Benzeu-me, abraçou-me e disse-me “Nunca mais te esqueças de mim”. 

“Nunca mais”.