sexta-feira, 22 de março de 2019

Ouve-me bem!

Recuso-me a desistir do amor!
Apenas por tu me enganaste,
Quando disseste amo-te com fervor
E num ápice o esfriaste!

Recuso-me desistir da vida!
Por achar que só teria sentido em ti.
Mostraste-me que uma saída
Pode ser um princípio em si.

Recuso-me a recusar a dor!
Se dói é porque tem de doer.
Porque alimenta em mim o motor
De a saber como sofrer.

Recuso-me a esquecer-te!
Dignificarei aquilo que fui contigo.
E posso nem sequer nunca mais ver-te
Mas agradeço o que de bom e mau fizeste comigo.


Ouve-me

Ao amor entreguei-me inteiro,
Como seria suposto me entregar.
Tu devolveste-me desfeito,
Com os pedaços por apanhar.

Junto-os e vou-os deixando cair,
Reconstruindo-me nunca como era.
Porque parte de mim levaste ao fugir
E o que parte jámais se regenera.

Que tarefa hercúlea tenho agora:
Seguir imperfeito à procura de conserto.
Afogado numa alma que, por ti, chora
Lágrimas de saudade que sozinho verto.

Devolve-me o que é meu,
E que sem o qual mal me reconheço.
Este corpo que de raiva se encheu
Precisa, demais, de um recomeço.