domingo, 5 de maio de 2019

Água e Fogo

Embriagado deste sentimento
Que não mente quando o sinto,
Escrevo o que levo na mente
E no coração, não minto.

Apaixonei-me. Só isso.
Pelas curvas do teu sorriso.
E a maneira do teu pensar
Até me corta o respirar.

Afoguei-me nesta onda.
Apagaste tudo, e reacendeste.
Sinto que, por mais que me esconda,
No fundo, nunca me perdeste.

Quero que me queimes! E me molhes!
Atira-me e puxa-me de novo!
E diz-me, olhando-me nos olhos,
Que aqui me queres, e eu não me movo.


sexta-feira, 22 de março de 2019

Ouve-me bem!

Recuso-me a desistir do amor!
Apenas por tu me enganaste,
Quando disseste amo-te com fervor
E num ápice o esfriaste!

Recuso-me desistir da vida!
Por achar que só teria sentido em ti.
Mostraste-me que uma saída
Pode ser um princípio em si.

Recuso-me a recusar a dor!
Se dói é porque tem de doer.
Porque alimenta em mim o motor
De a saber como sofrer.

Recuso-me a esquecer-te!
Dignificarei aquilo que fui contigo.
E posso nem sequer nunca mais ver-te
Mas agradeço o que de bom e mau fizeste comigo.


Ouve-me

Ao amor entreguei-me inteiro,
Como seria suposto me entregar.
Tu devolveste-me desfeito,
Com os pedaços por apanhar.

Junto-os e vou-os deixando cair,
Reconstruindo-me nunca como era.
Porque parte de mim levaste ao fugir
E o que parte jámais se regenera.

Que tarefa hercúlea tenho agora:
Seguir imperfeito à procura de conserto.
Afogado numa alma que, por ti, chora
Lágrimas de saudade que sozinho verto.

Devolve-me o que é meu,
E que sem o qual mal me reconheço.
Este corpo que de raiva se encheu
Precisa, demais, de um recomeço.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O meu maior defeito

O meu maior defeito?
Apaixonar-me facilmente.
E com um coração tão estreito,
Onde vai caber tanta gente?

Não tenho culpa que a criação
Tenha feito a mulher tão perfeita.
Ou tenho um problema na visão
Ou é no coração a maleita.

Desconfio dos dois, pois...
Se o olho vê, a bomba sente.
E entre as emoções e as razões
Há sempre uma que me mente.

A minha maior qualidade?
Amar perdidamente.
No meio de tanta quantidade
Haverá quem se perca igualmemte!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Vosquitxi

Hoje sonhei contigo. E com ele. Não me importunou o beijo que vocês deram mas sim o facto de não me dirigires uma palavra sequer, numa altivez de como quem ganha um jogo e, sem saber jogar, esbarra a vitória na cara do perdedor. Também não me importuna o facto de poder ter sido eu a perder o jogo. Nós que jogávamos tanto joguinhos de telemóvel e eu gostava de te ver sorrir quando ganhavas. Mas nesses jogos, mesmo quando um de nós fazia batota e o outro ficava amuado, um tempinho depois e estava tudo igual, igual ao paraíso que era. Um paraíso imperfeito, como todos, mas que por ser nosso eu queria que nunca acabasse. Só uma coisa para mim era maior que esse paraíso: a certeza de seres livre a todo o momento! Porque é essa liberdade que faz de ti uma borboleta deambulante que apaixona pela taralhoquice com que voa sem ter uma rota definida. E foi essa liberdade que vi desfazer o paraíso. Eu senti-o logo a desmoronar quando me perguntaste "Achas que devo ir?!" e eu, com todas as fibras do coração a quererem dizer para não ires, escolhi ouvir as sinapses do cérebro que diziam que não tinha o direito de te prender, disse "Sim...". Lembro-me que também me deste sinais de que sentias que tudo ia acabar, que o paraíso ia fechar por insolvência técnica, quando me questionas-te se "ia-mos aguentar?". Eu disse que tudo ia fazer para que sim, mas que era um enorme teste ao nó que demos em nós! A despedida custou, lá foste a cambalear com a certeza que voltavas mas com a incerteza de como, e viagem após viagem vinhas cada vez mais tua e menos minha. Lutei, tu sabes que sim, embora digas que não. Mas lutar contra o monstro que é uma nova vida, uma vida que tu construíste diferente da que tinhas porque só tu é que mandavas nela é impossível. Nem eu, que estou habituado a lutas difíceis, de perder e de ganhar, me consegui equiparar a esse rival que me deu dois socos, me deixou atordoado num canto e te levou por um braço a olhar para trás gabando o prémio que de mim levara. O maior prémio que tinha na vida… E como tu gostaste de me ver no chão, e ir no conforto do vencedor. Como uma leoa que espera a luta dos machos para seguir com o mais forte, desprezando o mais fraco. É a lei da sobrevivência e desta vez eu soube o que era ser o que perde. Impiedosa. Chamei por ti, quis que, mesmo que não fosses minha, te pudesse admirar nos voos que tinhas para dar, mas não quiseste… para quê ter um perdedor a assistir? ou, para quê ter alguém da outra vida nesta nova? por quê arriscar trazer atrás algo de um passado velho para um futuro novo? É realmente o que me importuna todas as noites. Porque é que não me deixaste ficar, depois de nos prometer-mos que o íamos fazer? Das poucas respostas que me deste, dizes que te magoei, mas nesta batalha ninguém saiu ileso. Errámos os dois e sofremos os dois, cada um à sua maneira. Só pedia, ao mundo, que o fim do paraíso não fosse um lugar cheio de nada. De nada mesmo! E talvez uma sala com algumas fotografias, umas cassetes guardadas mas preferencialmente com uma varanda gigante na qual me pudesse sentar e ver-te voar lá fora, só isso!
Quase um ano depois de teres ido embora de mim ainda tenho as nódoas negras, os arranhões, os hematomas a sarar. Quando parece que desapareceram, voltam trazendo a dor dos hematomas e arranhões, que por serem da alma, são os mais difíceis de curar.
Muito pouca coisa me importuna nesta minha, única, vida… Não saber de ti, por ti é a que mais me dói.
#vosquitxi