quinta-feira, 13 de junho de 2013

Ser poeta





Um poeta Escuta-se, E profeta Cura-se!
É doença Infinita. É crença Na perdida.
Desejo Imprudente, De beijo Absorvente.
Metamorfismo Impossível: Ser abismo, Ser incrível.
Preferir O nada, Sentir Cada.
É ser Inexistente. Simbionte De gente.
Parasita, Que recita, Chora e Vai embora.
Sombra Da verdade Sem corpo, Sem vontade.

Nevoeiro




É preciso afugentar todo este nevoeiro que sobre nós paira. Mais não somos descendência de antepassados corajosos e sôfregos que pintaram o azul do mar pela primeira vez. Deitados apodrecemos na encosta da História daquilo que fomos, que verbalizamos com medo de a termos de escrever de novo. E temos, só que sufocamos neste nevoeiro, neste fumo de nossa criação.


 


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer --
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...


poema de Fernando Pessoa
pintura de René Magritte