sábado, 23 de fevereiro de 2013

Poetas

"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".- Lei de Lavoisier

      A poesia foi me apresentada, como provavelmente a vocês, na escola sob forma de textos antigos, escritos com um português que, e ainda por cima com o novo desacordo ortográfico, tinha apontamentos muito diferentes deste que agora apalavramos. Todos esses textos, escritos como se fossem prédios, mas construidos de cima para baixo ignorando todas as lógicas da razão(hoje percebo porquê), tinham algo em comum: tinham sido escritos noutro século, noutra época. Poucos eram os autores que podia ouvir a declamar a sua obra, de voz viva.

      Viveríamos sempre com textos séculos e séculos cada vez mais longínquos, a ensinar em Língua Portuguesa um português que nunca falámos nem ouvimos. Com textos poeirentos, pensamentos antigos por mais evoluídos que fossem, e entendimentos que eu nunca consegui perceber como podiam ser tão objectivos e alvos de tanta correcção por parte dos meus professores. Poemas não têm um só entendimento, depende do que passaram os olhos de quem os lê!(nunca me entenderam nisso).

      Essa magia que me enchia de prazer quando decifrava o que, para mim, tal construção de palavras representava no canto dos sentimentos, não se perdeu... reinventou-se.

      Eu agora oiço poesia, quase não a leio, sinto-a a entrar no meu corpo e vou a descobrindo sempre que oiço de novo, com novos sentidos na minha cabeça, e novas sensações no meu coração. Os poetas que a escrevem acrescentaram-lhe um ritmo contemporâneo, acrescentaram novas construções verbais.
Sempre conscientes de que são parte desses textos eruditos, um poeta nunca esquece de onde vem nem de onde vem a sua poesia.

      É incrível o liricísmo que por hoje corre nestas rua, em phones, em rádios de carros, em computadores, em trechos que ficaram presos repetidamente na cabeça de outro apaixonado lunático.

      Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Cesário Verde ficariam orgulhosos por saber que aquilo que faziam, ainda que de outra forma, ganhou uma nova vida e não se perdeu no esquecimento de um velho livro numa velha biblioteca. Tal como um pai se orgulha de um filho que ganhou saber-viver depois de ter aprendido consigo.


Contemporâneo
Royalistick

A vida segue, embala
Numa voz que acalma,
Num sussurro de esperança
Que te cansa
E que te cala.
E avança, não para.
Não espera, nao fala.
Não dá sentido a nada
E tu não consegues chamá-la.