sábado, 26 de janeiro de 2013

Isolado

Tenho sentimentos que desconheço, então como posso saber quem sou se nem a mim me convenço? Tenho comportamentos órfãos para mim, perdidos, que nem sei o que revelam, escondidos, com medo desse monstro que possa existir, e que não se destrói com qualquer elixir. Sinto-me acorrentado a este instável estado de desconhecimento, acorrentado a uma indestrutível parede de cimento. Se me lembrasse de como tudo era antes de me lembrar, talvez acharia razão que me leva a isolar. Falta me algo e o mundo pensa que tenho tudo, e falo demais quando desejo ser mudo. Porque já não tenho quem me perceba e me aconselhe, quem me traga terra e faça com que me olhe a um espelho, mostrando-me quem sou e para onde vou. Perdi o rasto das pegadas que me iam dando caminho, cortando-se na frente, sofrendo para eu não estar sozinho. Perdias num precipício e voar eu não sei, por isso continuo aqui em cima, sozinho, sem pista de para onde irei.

Volta para trás que eu acorrento este monstro e sigo-te, para onde quer que vás.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Senti(do)

Hoje faz-me sentido tudo. Agora faz-me sentido ter saído de casa e correr sem destino. Faz-me sentido ter passado por tanta gente, ter visto e sentido tantas coisas. Faz-me sentido ter descido uma escadaria enorme em direcção à praia e não saber ao certo como tinha chegado ali. Contemplar o horizonte com um olhar concomitante, ouvir o som do mar a tentar verbalizar, sentir o paladar de sal e energia, sentir o ar fresco na pele e a água a tocar-me nos pés e a subir lentamente. Continuar a correr pela praia fora, querer que o momento e o mundo mude e que não haja mais nada para além da felicidade. Hoje e neste momento tudo me faz sentido. Faz-me sentido ver-te agora e que te aproximes a correr também. Parámos ambos por momentos, e ambos sabíamos que fazia sentido termos parado fixamente e cruzado olhares de anos apesar de nos vermos pela primeira vez. Ambos falávamos línguas diferentes mas naquele momento as nossas línguas foram um idioma só, no qual não precisávamos de dizer nada para saber tudo. Seguimos caminhos diferentes sem saber quando nos voltaríamos a ver porque hoje faz sentido sentir que nos vamos voltar a ver um dia.